29
de abril de 2013 | N° 17417
KLEDIR
RAMIL
Música e matemática
Por
incrível que possa parecer, Kleiton e eu somos formados em engenharia. Eu sou
engenheiro mecânico, e ele, eletrônico. Cantores-engenheiros não são raros na
MPB: Ivan Lins, João Bosco e Francis Hime também são. No fim é isso, artistas,
engenheiros é tudo a mesma turma.
Para
fazer um show, por exemplo, a gente depende de vários profissionais da área.
Precisamos de um prédio, um teatro com tratamento acústico e equipamentos
elétricos/eletrônicos de última geração. Nossos instrumentos musicais são
ferramentas de alta precisão, projetados segundo formas, medidas, resistência
dos materiais e até cálculo de engrenagens, como é o caso das chaves usadas
para afinar as cordas do violão.
O
mundo está cada vez melhor graças aos engenheiros, nossos colegas. Se não fosse
o domínio de toda essa tecnologia, nós estaríamos vivendo no meio do mato,
cantando e dançando na volta de uma fogueira.
Adoro
ciências exatas, tenho uma mente concreta, um pensamento lógico. O problema é
que eu era um cara atrapalhado com as questões afetivas e corria o risco de me
tornar um sujeito cartesiano. A música me salvou. Encontrei uma atividade
absolutamente rigorosa, de precisão matemática, onde posso extravasar as minhas
emoções.
Música
é pura matemática. O que a gente chama de nota musical é, na verdade, uma
frequência determinada. Lá 4 é uma vibração de 440 hertz. Frequências mais
altas, notas mais agudas. Mais baixas, notas graves. Além da altura, uma nota
musical tem um tempo de duração, curto ou longo.
Uma
sequência de notas “constrói” uma melodia. Notas tocadas ao mesmo tempo criam
acordes, harmonias. Aí, esse monte de notas com frequências e tempos variados,
são executadas em um ritmo, tipo 4/4, 6/8... E com um andamento determinado,
como 120 bpm (beats por minuto). Por isso, é necessário um maestro para fazer
uma contagem e dirigir a orquestra.
Além
de todas essas medidas musicais, na hora de compor uma canção ainda é preciso
“encaixar” uma letra. Versos respeitando a métrica (um número certo de
vocábulos), a prosódia (a acentuação tônica das palavras coincidindo com a
acentuação melódica) e a rima. Aí, no fim, tudo isso tem que fazer algum
sentido e ter um mínimo de beleza. Ou seja, é uma loucura, é mais complicado do
que construir um edifício. Acho que vou voltar pra engenharia.
Comentário
final: Maria Fumaça... só mesmo dois engenheiros malucos para fazerem uma
canção de amor em homenagem a uma locomotiva.
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