sexta-feira, 26 de abril de 2013



26 de abril de 2013 | N° 17414
PAULO SANT’ANA

O robô cirurgião

Um dia, alguém importante me sugeriu que, em vez de eu publicar todos os dias a minha coluna, o fizesse uma ou duas vezes por semana no máximo. “Eu não me esforçaria tanto, ainda mais que tenho doenças”, disse-me aquela pessoa.

Respondi que não era possível, porque eu penso todos os dias, não consigo me dar folga no ato de pensar. E, se penso e sou jornalista, tenho de escrever sempre que penso, ou seja, todos os dias. Eu não consigo pensar só duas vezes por semana.

Se eu tivesse talento, escreveria um livro sobre o mensalão. Penso que alguém teria de fazê-lo. Não quero absolutamente exigir isso de ninguém, principalmente se esse alguém sente engulhos ao escrever contra suas próprias preferências partidárias ou ideológicas.

Mas alguém terá de escrever este livro sobre este momento máximo da obscenidade política nacional.

Por sinal, com todas as evidências de revanche, tramita no Congresso Nacional um projeto que visa dotar o Legislativo de prerrogativa de reformar sentenças do Supremo que decidem sobre questão constitucional, por sinal o fulcro de utilidade do Supremo.

Se passar no Congresso essa escória, acaba a possibilidade de o Brasil se tornar um dia uma democracia.

Uma hora é gente querendo impedir o Ministério Público de investigar, outra hora pretendem tirar do Supremo o papel de última instância sobre interpretação constitucional. O Congresso está virando uma usina dedicada à impunidade.

E dizia-se há pouco tempo que nunca em sua história o Supremo havia condenado políticos. Foi só condená-los no mensalão e já querem castrar o Tribunal.

Querem legislar só na base do casuísmo interesseiro. O cirurgião Paulo Sandler é integrante do corpo médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Ele se encheu de orgulho ao me mandar comunicar que o Clínicas acaba de adquirir um robô com um programa de cirurgia robótica. E acrescenta que no segundo semestre deste ano, portanto a partir de julho, o Clínicas estará apto às primeiras cirurgias feitas por um robô. Parabéns, mas não deixa de ser irônico e demonstrar grandeza que um cirurgião se orgulhe de um robô que poderá um dia vir a substituí-lo.

Por sinal, cogito que cirurgia realizada por robô tem a vantagem de, sendo programada a operação, passa a ser quase que completamente inexistente a chance de erro médico.

Mas digamos que por milagre aconteça um erro médico em cirurgia feita por robô. Eu perguntaria o seguinte: nessa hipótese, como responsabilizar um robô?

Como sou leigo, imagino que possa existir em qualquer cirurgia um momento em que o cirurgião terá de improvisar em meio a ela, em face da mudança das circunstâncias programadas durante o evento.

E imagino mais: o robô cirurgião atuará sempre monitorado ou guiado por um ou mais cirurgiões. E mais curioso ainda me torno: sempre ouvi dizer que Fulano é o maior cirurgião de Porto Alegre em próstata ou outra qualquer especialidade.

Nesse caso, ninguém conseguirá bater por aqui no ranking dos cirurgiões esse robô do Clínicas?

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