20
de abril de 2013 | N° 17408
CLÁUDIA
LAITANO
Quem nos
representa?
Incorporado
ao vocabulário popular em meio aos protestos contra a eleição de Marcos
Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o lema
“não me representa” promete ter vida longa no Brasil, um país de gente
habituada a desconfiar de representantes em geral – do síndico do edifício ao
presidente da República.
Mezzo
a sério, mezzo na gozação, o slogan ganhou uma divertida versão local esta
semana depois do anúncio de que o ator Carlos Villagrán havia sido convidado
para representar Porto Alegre na divulgação da Copa do Mundo.
Se
me perguntassem, teria dito que Kiko também não me representa (já era velha
demais para assistir a Chaves quando o seriado fez sucesso...), assim como não
me sinto representada pela Copa do Mundo (se o planeta dependesse do meu
interesse por futebol para organizar um campeonato, a Copa seria decidida no
jogo de palitinho), pelo Carnaval ou pelo Papa. Já o meu síndico é um amor de
pessoa e me sinto totalmente representada por ele.
A
febre do “não me representa” nasceu de uma energia de resistência não apenas a
um deputado, mas a tudo que ele, sim, representa. Quando as forças do atraso
mostram-se mais organizadas do que o outro lado (que não parece capaz de se
unir nem para promover um amigo-secreto no Congresso), é natural que os
eleitores se sintam incomodados com o fato de que seus supostos representantes
parecem estar, no mínimo, comendo mosca.
O
que deveria estar escrito nos cartazes dos protestos era: “Ei, você aí, que
recebeu meu voto, faça o seu trabalho: me represente!”. Há dezenas, centenas,
de deputados e senadores que não nos representam no Congresso – e isso não é um
acidente, mas parte do jogo democrático.
Se a
frase tornou-se rapidamente uma fonte inesgotável de piadas do tipo “meu time
não me representa” ou “sertanejo universitário não me representa”, talvez seja
porque há algo ali que se presta para o exercício da exibição pública de
idiossincrasias (como o fato de eu gostar ou não de futebol ou do Kiko) – e
também alguma confusão com o sentido que a palavra “representação” deveria ter
em uma democracia. Pode-se dizer tudo a respeito do Congresso, mas é preciso
admitir que ele representa bem as contradições e o atraso do Brasil.
Muitos
gostariam que o Congresso fosse mais parecido com o Supremo Tribunal Federal,
que debate temas polêmicos a partir de um patamar razoável de formação e
informação dos seus membros – o que raramente é o caso no Poder Legislativo.
O
STF me representa, mas não foi escolhido por mim. O Congresso foi eleito pela
maioria, mas isso não é suficiente para que os brasileiros se sintam
representados por ele – provavelmente porque há uma desconfiança generalizada
com a própria ideia de que deputados e senadores representem algo mais do que a
si mesmos no Congresso.
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