28
de abril de 2013 | N° 17416
VERISSIMO
Terror
noturno
Seja
o que for que respira na escuridão, não conhece o seu quarto tão bem quanto
você
Você
acorda no meio da noite com o som de alguém respirando. Você mora sozinho. Não
tem cachorro, ou qualquer outro animal. Mas não duvida: alguém, ou algo, está
respirando na escuridão do seu quarto, além de você.
Você
estende a mão para acender a lâmpada de cabeceira. Hesita. Talvez seja melhor
ficar no escuro. Assim você não vê quem ou o que respira na escuridão, mas
também não é visto. Seja o que for que respira, também não está enxergando
nada. Se for um ladrão, é um ladrão sem lanterna. Se for um bicho, a não ser
que tenha visão noturna, também não está enxergando.
Mas
aí você pensa: se não vê onde anda, o outro, a coisa arfante, deve esta
tateando no escuro. Você tem a terrível premonição de uma mão fria ou uma garra
pegajosa agarrando o seu braço. Melhor acender a luz. Mas aí você perde sua
vantagem. É visto. Se expõe. E outra coisa: você não tem certeza que quer ver o
que está respirando na escuridão. E se for um monstro, um grande réptil
escamado? E se for a morte que veio buscar você? E se for a retribuição
esperada para todos os seus pecados, na forma de um arcanjo arquejante?
A
escuridão lhe protegerá. Seja o que for que respira na escuridão, não conhece o
seu quarto tão bem quanto você. Você pode deslizar para fora da cama e ir, pé
ante cauteloso pé, até o banheiro, se trancar no banheiro e... E o quê? O
celular. Levar o celular para o banheiro e pedir ajuda.
O
celular está sobre a sua mesa de cabeceira. Você pode pegar o celular, se
deslocar em silêncio até o banheiro, fechar a porta e chamar a polícia. Mas se
encontrar o monstro no meio do caminho? O som da respiração está vindo da sua
direita, logo a sua esquerda está, em tese, desimpedida. Mas se você esbarrar
num corpo quente a caminho do banheiro, aí sim gritará de terror e
provavelmente desmaiará.
Calma,
pensa você. Muita calma. Está bem, você está pagando pelos seus pecados. Merece
uma alucinação como esta, para aprender. Na noite anterior bebeu demais, nem
sabe como chegou em casa. A única coisa a fazer agora é voltar a dormir. De
manhã, tudo se esclarecerá. Foi um pesadelo, um delírio de culpa, um revide da
consciência. Nada disso está realmente acontecendo.
E
então você se lembra. Na noite anterior, trouxe alguém para dormir com você.
Quem está respirando ao seu lado é... Quem mesmo? Só há uma maneira de
descobrir quem você, bêbado, trouxe para a sua cama: acender a lâmpada de
cabeceira. Mas de novo você hesita. Não tem certeza que quer ver quem dormiu ao
seu lado. O que a luz acesa revelará a seu respeito? Você prefere não saber.
Pelo menos até o amanhecer, a escuridão lhe protegerá.
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