24
de abril de 2013 | N° 17412
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araújo
O incrível povo que
evaporou
No
início da I Guerra Mundial, em 1914, havia na Anatólia, região asiática da
atual Turquia, cerca de 2,1 milhões de armênios. Essa população, uma das
primeiras a adotar o cristianismo como religião oficial, constituía uma
comunidade próspera e influente no então Império Turco Otomano.
Entre
seus integrantes, havia industriais, banqueiros, militares, parlamentares e até
ministros de Estado. Os armênios tinham suas próprias igrejas, escolas e
jornais. Menos de 10 anos depois, restavam menos de 400 mil deles.
Para
descrever seu destino, o jurista polonês de origem judaica Raphael Lemkin
cunhou um termo: genocídio. Quando a guerra eclodiu, muitos armênios pegaram em
armas em partes da Anatólia atendendo a uma proclamação do czar russo de que
chegara a sua “hora da libertação”.
A
maioria permaneceu leal a Istambul. No dia 24 de abril de 1915, deputados e
ex-ministros de origem armênia foram presos. O governo decidiu deportar os
suspeitos de deslealdade. Logo depois, relatos de assassinatos, deportações,
estupros, confiscos de propriedade e marchas da morte começaram a se
multiplicar.
Os
armênios da Anatólia desapareceram duas vezes. Da primeira, entre 800 mil e 1,5
milhão morreram em consequência da ação de civis e militares turcos entre 1915
e 1918. Depois de riscados da vida, as vítimas desapareceram da história – e
essa foi a sua segunda morte. Istambul chegou a julgar envolvidos no massacre,
mas jamais assumiu que tenha havido política deliberada de extermínio.
Em
2005, o escritor turco Orhan Pamuk, que receberia no ano seguinte o Nobel de
Literatura, foi processado por ter usado a palavra “genocídio” em relação ao
episódio. Não seria demais esperar que, neste 24 de abril, Dia da Memória do
Genocídio Armênio, o Brasil, que abrigou sobreviventes do holocausto armênio e
seus descendentes, se somasse aos mais de 20 países que reconhecem o genocídio dessa
população e exigisse da Turquia a abertura dos arquivos sobre a tragédia.
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