JAIRO
MARQUES
PARA LER NA ESCOLA
De
nada valem aplicativos geniais e vídeos engraçados no YouTube se alguém não
ensina o que é a ironia
Fico
imaginando o quanto deve doer o "Coração de Estudante" do Milton
Nascimento ao ser bombardeado com imagens de professores com suas caras
arroxeadas que não param de aparecer na televisão, nos jornais, nas "internets"
e nos hospitais.
Professor
pega gripe de menino catarrento que dá bom-dia com beijo, faz curativo no
atentado que se rasgou na hora do recreio, é o psicólogo preferido do
adolescente meio "revolts" e o defensor-mor da igualdade no reino das
diferenças que imperam em uma escola.
Agora,
porém, o respeito, a consideração e a admiração ao mestre, valores intocáveis e
inquestionáveis, parecem que estão sucumbindo a qualquer mimo, a qualquer
charme, a quaisquer garotões ou garotonas bobos que se acham, mas que, no
fundo, estão bem perdidos.
Professor
é o cara que entrega para a gente, em alguns casos, quase de graça, uma chave
universal que destranca portas ao longo de toda a trajetória de vida. Mesmo
assim, a tranca da ignorância de quem acha que ensinar é algo ultrapassado
parece estar ganhando adeptos com velocidade.
Quero
ver o Google inspirar a pensar que, talvez, o segundo resultado de uma pesquisa
seja mais íntegro e válido do que o primeiro link apresentado. Duvido que haja
jogos on-line mais interessantes do que um bom debate sobre a danada da Capitu.
De
nada valem aplicativos geniais e vídeos engraçados no YouTube se alguém não
ensina o que é a ironia, o que são os efeitos da trigonometria, a importância
do porto de Alexandria, a razão por que tantos buscam isonomia e os relevos da
geografia.
Passou
da hora de a galera do fundão reagir criando uma marchinha de agrado ao
professor. E também é momento de os nerds fazerem uma campanha no ciberespaço
de valorização do conhecimento.
As
bonitas poderiam ajudar a dar um up no make caído que fazem para o "prô".
A galera da timidez poderia preparar um grito bem gritado de "cheeeega",
de cale-se e preste atenção, que é meu futuro o que está no gramado. Aos puxa-sacos caberia fazer redondilhas
cheias de xodó.
Quando
a violência não é mais um tema da rua e de ambientes hostis, em que a gente tem
sempre um político safado a quem impor a responsabilidade, e começa a ser
fotografada dentro do palco maior de aprendizado, a escola, parece que o futuro
está avisando, com calafrios, que ficará doente.
Este
texto não é para ser lido na escola porque vai cair na Fuvest nem trata de um
tema modernoso, que não para de ser discutido nos mundos acadêmicos. Ele também
não tem palavrão caprichado e escracho sujão para se morrer de achar bom,
compartilhar com os amigos.
Ele
só serve para lembrar e reafirmar que escola e professor são fundamentos que
instigam acordar para fazer melhor, para ganhar mais uma dose de estímulo para
ir além. Não é a história de um fulano em uma caverna distante que é afetada
quando um mestre apanha de um aluno. É a história que você está construindo
para seus filhos e para si mesmo.
Que
as caras manchadas dos prófis sejam de tanto rir de conquistas daqueles a quem
se doaram ou pela maquilagem escorrida de tanto chorar de orgulho por aqueles a
quem se dedicaram. E desculpe-me do
tom professoral.
jairo.marques@grupofolha.com.br
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