02 de outubro de 2012 |
N° 17210
DAVID COIMBRA
59 correções
Sou uma besta.
Na página de domingo fui escrever
sobre as Cataratas do Iguaçu e falei em Sete Quedas. Resultado: ontem, quando
inocentemente abri o email, dezenas (dezenas!) de mensagens de leitores luziam
e bramiam na caixa de correio, a fim de me corrigir.
E, nos últimos dois dias, outros
tantos ligaram ou me abordaram na rua, arrumando o erro. Parei de contar na
correção número 59 (cinquenta e nove!). Nunca fui tão corrigido.
O lado bom é que mostrou como a
página é lida e como os leitores são atentos. O lado ruim é que sou uma besta.
O pior é que lembro do fim das
Sete Quedas, já não era mais criança, já estava na faculdade, tentando ser
menos besta e, como se viu domingo passado, não conseguindo.
Recordo até daquele acidente em
que vinte e tantas pessoas morreram quando a ponte pênsil de Guaíra caiu. As
Sete Quedas, que em conjunto um dia formaram a maior cachoeira do mundo, agora
jazem debaixo d’água. O governo militar tapou-as para construir a Usina de
Itaipu. Uma tristeza.
Hoje o governo não conseguiria
fazer a Usina de Itaipu. Os ecologistas não permitiriam. Se isso é positivo ou
negativo?, não sei. A energia é importante, mas as Sete Quedas também eram.
Hoje os ecologistas não
permitiram nem o aterro do Guaíba. Não haveria a Avenida Beira-Rio, a mais bela
da cidade; a Rua da Praia ainda teria praia; a Praça da Alfândega seria
finalizada por um cais, e não pelo asfalto cinza da avenida; e o Inter ainda
jogaria nos Eucaliptos.
É. Talvez não fosse tão bom.
W e Y
As cordiais, porém firmes,
correções dos leitores tiveram o mérito de me fazer lembrar algo mais do que a
minha visita às Cataratas do Iguaçu, na Copa América de 1999.
Aquele evento foi interessante
porque, além das Cataratas, pude ver de perto o trabalho do então técnico da
Seleção, Vanderlei Luxemburgo, à época um Vanderlei, a seu pedido, com dábliu e
ípsilon. Wanderley. Hoje, Vanderlei, novamente a seu pedido, começa com vê
simples e termina com i reto. Um Vanderlei nacional, singelo, direto.
Pois acho que essa mudança
operou-se, igualmente, no espírito de Vanderlei. Mais maduro, ele tornou-se
mais seguro, e quem é seguro não precisa chamar a atenção com exotismos.
Terno &
gravata
Naquele tempo da Copa América
paraguaia Vanderlei notabilizava-se como o primeiro técnico de terno e gravata
do futebol brasileiro.
Não apenas por isso, claro: ele
era dos poucos que valorizavam as funções auxiliares da comissão técnica: o
psicólogo, o fisioterapeuta, o assessor de imprensa. Um treinador moderno, de
corte europeu. Hoje isso tudo é comum, isso tudo está consagrado no futebol
nacional, mas, nos anos 90, Vanderlei tinha de ser um pouco Wanderley.
A evolução
Os times de Vanderlei se tornaram
mais simples e consistentes à medida em que a personalidade dele se tornava
mais simples e consistente. Uma evolução.
O Grêmio de hoje não tem
adereços, até porque não pode. O Grêmio joga como deve jogar. Quatro
defensores, dois volantes, dois meias, dois atacantes. Mas, fosse outro
técnico, meteria ali um w, um y ou um k. E ficaria estranho.
O detalhe
O que Vanderlei mantém inalterado
de uma década para outra é sua atenção ao detalhe. A psicóloga era importante,
assim como é o lateral-direito. O Grêmio fez bem ao pagar para ter Pará contra
o Santos. No futebol, qualquer pormenor pode ser decisivo. Vanderlei sabe
disso. A experiência mostrou.
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