segunda-feira, 1 de outubro de 2012



01 de outubro de 2012 | N° 17209
PAULO SANT’ANA

Inesquecível mulher!

Roberto Carlos permaneceu durante horas no velório de Hebe Camargo, resgatando, assim, um devotamento que a apresentadora tinha por ele.

Sílvio Santos e todos foram reverenciar a imensa graça de Hebe Camargo, que dominava a cena da televisão com uma simpatia incomparável.

Seu sorriso era marcante. O jeito delicado e afetivo com que ela se dirigia a todos era cativante.

Fiquei com a impressão – pode ser que equivocada – de que Hebe, que morreu trabalhando, tinha de estar recolhida ao hospital para tratar de seu grave câncer. Não terá sido desídia dos médicos deixá-la trabalhando? Ou será que foi uma exigência inarredável dela continuar em atividade, apesar da grave moléstia?

Eu estava no barbeiro quando ele me disse que lhe telefonaram, era meio-dia de sábado, avisando-o de que Hebe Camargo tinha morrido. Sucederam-se então no salão de cabeleireiros uns rumores de respeito e saudade sobre a grande artista. O Brasil foi sacudido pela morte de Hebe. Há artistas que se inserem na realidade e no cotidiano de um país como se fossem inseparáveis dele. Era o caso de Hebe Camargo, ninguém desgostava dela. Eu nunca vi, o que vejo com tantos outros apresentadores, alguém queixar-se de que seu programa estava enfadonho.

Foi uma grande perda. E ela morreu lutando, tinha assinado um contrato com o SBT e iria estrear naquele canal nos próximos dias. Apesar de idosa, mantinha um charme, um glamour feminino impressionante: nunca nenhum telespectador viu-a de sapatos de saltos baixos ou de tênis, sempre maquiada, até mesmo quando não estava trabalhando. Era um símbolo feminino insuperável.

Não vejo caso na televisão brasileira de uma apresentadora que tenha se mantido no ar durante tão logo tempo. Deve ter trabalhado em todas as redes nacionais de televisão, parece-me que com exceção da Globo.

Uma vez, encontrei-me com ela em Punta del Este e lhe fiz vários elogios, entre os quais o seguinte: “Você é a noiva do Brasil”. Com aquele sorriso permanente, ela enlaçou minha cabeça com as mãos e me dirigiu o seu bordão lendário: “Gracinha”.

Eu fiquei todo bobo.

Assentavam-lhe com comodidade e sem ostentação todos os vestidos e as joias. Era legítima detentora do título que lhe deram: Dama da Televisão Brasileira.

Primeira-dama.

Pobrezinha, morreu com vontade intensa de viver. Acima de tudo, foi mulher. Tinha feminilidade, tinha delicadeza, irradiava simpatia e gostava de homem. Uma mulher completa.

A velhice, em vez de abatê-la, incentivava-a mais ainda a ser graciosa e distribuidora de simpatia por todas as rodas e entre os telespectadores.

Que vontade de viver tinha Hebe!

Que orgulho em ser humana ela demonstrava, se arremessava às relações pessoais como se aquilo fosse um dom e um dever da sua natureza.

Admirável mulher. Inesquecível mulher.

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