quarta-feira, 16 de abril de 2008



16 de abril de 2008
N° 15573 - Diana Corso


Me fraguei!

Readquiri meu exemplar extraviado do Dicionário de Porto-Alegrês, do prof. Fischer, e descobri que sou do tempo em que um bodoso qualquer, botava a maior beca e saía bem belo por aí! Só para ficar no "b". A compilação de expressões próprias da nossa cidade é obra séria, mas de se finar de rir. Estava eu nos trâmites disso, quando chegou minha filha adolescente com uma amiga.

Comecei a ler para elas alguns verbetes que eram seguidos de comentários: é bem assim que vocês falam, minha mãe também usa essa expressão de velho... Ou o mortal: essa até eu uso. Fiquei encasquetada. O que pensava ser um recorte no espaço revelou-se um lapso de tempo retratado na linguagem...

Porto Alegre não é a mesma cidade para mim do que para essas jovens chegadas 30 anos depois. Exemplo similar ocorre na família, onde irmãos costumam não ter exatamente os mesmos pais, pois cada gestação acontece num tempo de vida diferente para os progenitores.

Com nosso modo de falar, demonstramos pertencer a um lugar, mas também a uma época, cada geração tem seu sotaque que é audível aos forasteiros, habitantes de outros tempos.

Contemporâneos são irmãos de época, conterrâneos de um tempo. A isso devem-se os serões gostosos comentando programas da década de 60 ou discutindo a escolha de personagem preferido entre Perdidos no Espaço, Johnny Quest ou Os Waltons.

Observo com surpresa que jovens na casa dos 20 anos entregam-se também a essas jornadas saudosistas onde arrolam Cavalheiros do Zodíaco, Saylor Moon ou Cavalo de Fogo entre suas memórias preciosas.

Assim como as expressões linguageiras, objetos culturais são parte do acervo que informa o lugar de onde viemos, o qual é composto de tempo e espaço. Linguagem e cultura são como um GPS que informa as coordenadas do nosso ponto de origem.

Por isso, senhores e senhoras, se quiserem encontrar a fonte da eterna juventude, não adianta espichar a cara. Nossa forma de falar, assim como nossos padrões estéticos e referências culturais denunciam a safra à qual pertencemos.

Podemos ser curiosos dos novos tempos, como eu, que tenho tentado meter os peitos nessa nossa época que para mim já é um futuro e para os moços ainda é seu presente.

Mas não nos enganemos, não há plásticas para as memórias, para a linguagem. Depois, é só dar um tempo pra gente acabar tirando um sarro deles quando ouvirem dos seus filhos: tipo?, si pá?, olha só?, que expressão de véio, meu...

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