sábado, 26 de abril de 2008



27 de abril de 2008
N° 15584 - David Coimbra


O leitor que trai

Tem um leitor meu que trai a mulher. Por Deus. Já disse para ele que sou contra, mas não adianta: o homem viciou-se no pecado. Isso acontece, fiquei sabendo.

Esse leitor, ele vive em uma pequena cidade do Interior, menos de 10 mil habitantes. É casado há mais de duas décadas, ama a esposa, mas, puxa, ele a trai.

Sim, ele trai.

Sua amante é 10 anos mais jovem do que ele, é bela, fresca como as manhãs no alto da Serra, vivaz e alegre feito um pintassilgo, uma mulher que aprecia se repoltrear no adultério, uma mulher que não poucos homens (acredite!) gostariam de ter.

Bem.

Certo dia, antes de o casal infiel espadanar na luxúria, a amante espreguiçou-se languidamente, com um langor que só as amantes possuem, e disse:

- Bolotinha - ela o chama de Bolotinha - tenho uma coisa pra te contar.

Bolotinha espigou-se todo. Sabia muito bem que, quando uma mulher avisa que tem algo para contar, nunca é algo bom.

- Que que foi, Mumuzinho? - Ele a chama de Mumuzinho.

- É que saí com um cara nesse fim de semana.

CATABUMBA! Ela saiu com um cara no fim de semana. Bolotinha sentiu a cabeça rodando, o intestino se contraindo, a garganta fechando. Estava num impasse.

Não podia reclamar da infidelidade da amante. Afinal, naquele mesmo final de semana em que ela se refocilava com o tal "cara", ele, Bolotinha, passava com sua mulher, almoçava e jantava com sua mulher, afagava sua mulher, dormia com sua mulher.

Mas aquilo doeu. Como doeu! Bolotinha preferia ouvir aquilo da esposa, a ouvir da amante. Porque, com a amante, não podia nem se revoltar. Ficou tão abalado que falhou, não conseguiu amar a amante. Voltou para o escritório cabisbaixo e, o pior, flácido.

No trabalho, não pensava em mais nada, só nela com o tal "cara". Não conseguia se concentrar, não conseguia falar, o peito lhe doía, a alma lhe doía.

Decidiu ligar para ela.

Como não queria admitir o ciúme que o devorava, usou a saúde como uma justificativa politicamente correta:

- Preciso saber uma coisa, Mumu: você usou camisinha?

- Claro, Bolotinha. Sempre uso.

Confirmado: ela havia feito sexo com o maldito "cara". Bolotinha descontrolou-se. Tapou-a de perguntas. Quem era o "cara"? O que ele fazia? Quantos anos tinha? E pior: como havia se saído? Pior ainda: ele era... mais... bem dotado do que ele?

Nenhuma resposta aplacou seu sofrimento. Ao contrário, intensificou-o. Nos dias seguintes, Bolotinha investigou até descobrir quem era o "cara".

Um garotão que jogava num dos times amadores da cidade. Domingo haveria jogo. Bolotinha resolveu comparecer. Queria ver o "cara", queria saber como se movia, sua aparência, a forma como se expressava, estava obcecado pelo amante da sua amante. Vou reproduzir, agora, a descrição que Bolotinha fez do seu rival no imeil que me enviou, dias atrás:

" Camisa 4 às costas. Moreno. Elegante. Certamente mais bonito do que eu".

Bolotinha era inteiro sofrimento. Até ver que, no adversário, jogava um velho amigo seu. Um daqueles companheiros de infância com quem sempre se pode contar. Bolotinha chamou-o ao alambrado. O amigo acudiu, sorrindo. E Bolotinha contou-lhe tudo. Tudo.

- Me vinga - pediu. - Me vinga!

O amigo prometeu que faria o possível.

Nesse momento dramático da história, passo mais uma vez a palavra ao Bolotinha, a fim de que o leitor tenha uma compreensão literal do que ocorreu:

"Começa o segundo tempo. Escanteio contra o time do meu amigo. Adivinha quem vem para a área? O cara, todo pomposo, esfregando a região abaixo do umbigo. Eu só imaginando o que estaria escondido ali.

Será que, realmente, era maior do que o meu? Mais firme? Mais ativo? Estava louco de ciúme. No alambrado, eu segurava a tela com raiva (sabes que no Interior não há arquibancadas, como ainda deve ser no IAPI). Escanteio cobrado. Meu amigo, espertamente, para evitar a subida do meu algoz, enfiou-lhe a mão entre as nádegas. Enfiou profundamente.

Ele ficou paralisado. Pregado no chão. Depois, falou alguma coisa no ouvido do meu parceiro e o jogo prosseguiu. No final, o meu amigo veio ai meu encontro e disse, sorrindo:

- Não te preocupa, vou te vingar completamente: ele quer sair comigo.

David, juro, essa história é verdadeira, não teria motivo para te azucrinar com algo que não tivesse realmente acontecido".

Aí está. O leitor que trai, de certa forma, foi vingado. Mas será que valeu a pena? Eu pergunto: será?

Uniforme branco

Alguns colorados não gostaram de saber que os jogadores do Inter pediram para usar uniforme branco, na quarta-feira. Em 1975 ocorreu o mesmo. Só que com o Grêmio.

O Inter tinha aquele timaço de Falcão, Valdomiro e Figueroa, estava invicto em Gre-Nais havia mais de dois anos. Até que, naquele Gauchão, o Grêmio entrou no Gre-Nal vestindo uma camiseta azul-celeste. Era um azul bem desmaiado, quase branco, muito bonito. Vestindo aquele uniforme, o Grêmio, então treinado por Ênio Andrade, venceu por 3 a 1, três gols de Zequinha.

Obviamente, depois daquele clássico os jogadores do Grêmio só queriam saber da camisa azul-celeste. Dava-lhes sorte, diziam.

Uma tarde, no Sala de Redação, o velho Foguinho comentou o caso.

- Minha maior mágoa com o Inter - disse. - É que o Inter fez o Grêmio deixar de usar o seu tradicional uniforme tricolor.

Não adiantou o lamento de Foguinho. O Grêmio continuou usando a camisa azul-celeste. E, com ela, perdeu o Gauchão mais uma vez.

Definitivamente, quem ganha, no futebol, é quem joga mais.

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