segunda-feira, 14 de abril de 2008


Jaime Cimenti
Jornal do Comércio,RS


Assembléia no Mother Joanna's Residence

No início, no condomínio Mother Joanna, era tudo amiguinho, churrasquinho, galetinho e até camarãozinho. Tinha conversa, música e gente no salão de festas. Hoje tem só silêncio, cadeira quebrada, faxineira e geladeira desligada vazia.

O primeiro síndico foi o general reformado Brasilino. Nas assembléias tinha cafezinho, bolinho, água mineral, entendimento e contas com números claros. Aí a Marisa, do 1608, implicou com a Fernanda, do 1708, que andava com uns decotes perfumados.

O general se desentendeu com o emergente Marcião, que queria água quente e cobertura metálica retrátil na piscina do prédio. O general sugeriu que Marcião fosse morar no Sheraton. O Marcondes rompeu com o Ferraz, porque ele vivia dizendo que as roupas estampadas dele eram meio gay.

A Mariângela, do 1806, se estranhou com a Clarinha, do 1506, por que ela, quando síndica, criou o negócio do cartão corporativo e aí os gastos ficaram obscuros e altos. A Pierina, do 1905, passou a reclamar dos quatro gatos e seis cachorros da Noemy, do 1805.

Numa reunião de condomínio tumultuada, com a presença da Brigada Militar e de dois pitbulls, o Genival disse que era melhor contratar um síndico profissional, que aí a coisa ficaria mais formal, organizada e tal. Dois anos depois acusaram o Pedreira, o síndico profi, de autoritarismo, assédio sexual em cima da faxineira e desvio de verbas.

O Pedreira disse que a culpa era da imobiliária e de alguns condôminos que tinham esquemas com fornecedores de bens e serviços, que os problemas eram complexos, antigos, de outras gestões e que ele tinha feito o possível e achava melhor não falar muito para não prejudicar a harmonia do convívio.

Na assembléia que rescindiu o contrato com o Pedreira, chegaram à conclusão de que era melhor que o condomínio fosse gerido por um programa de computador, de modo técnico e impessoal e sem maiores custos. Seria a gerência high tech como falou o Terêncio, o cara da firma de informática que implantaria o sistema.

O Terêncio era primo do dono da imobiliária. Tempos depois, numa assembléia absolutamente azeda, o Ouvidorino, do 806, denunciou que malfeitores tinham entrado no sistema do síndico cibernético e que havia irregularidades em matéria de pagamentos, receitas e prestações de contas.

Aí a assembléia, extremamente extraordinária do Mother Joanna´s Residence, decidiu que contrataria uma outra empresa de informática para fiscalizar o serviço do programa de computador-síndico.

Pouco antes do encerramento da assembléia, o Félix sugeriu que fosse contratada uma terceira empresa para fiscalizar as outras duas e que ele, o Nélson e o Silveira formariam um Conselho para fiscalizar as três empresas contratadas.

Mas aí não houve consenso. Votação e decisão ficaram adiadas. Nada mais havendo a tratar, o secretário colocou ponto final na ata, que o Durval disse que iria anular, por uns problemas de "quórum" e outras formalidades não-obedecidas.

A Clarabela, o Tibúrcio, o Mendes e o Carlos Inácio colocaram os apartamentos à venda, mas está difícil de arrumar comprador. (Jaime Cimenti)

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