sábado, 26 de abril de 2008



27 de abril de 2008
N° 15584 - Luis Fernando Verissimo


Se

Se os portugueses tivessem sido postos a correr - ou a nadar, no caso - naquele 22 de abril, como seria o Brasil, hoje? A maioria da população seria de índios e os descendentes dos poucos brancos que se animassem a vir depois do vexame português habitariam em terras demarcadas, em extremos remotos do país. Nas reuniões de presidentes do Mercosul o brasileiro seria o único nu.

Haveria vantagens e desvantagens em viver numa eterna Pindorama: para começar pelo mais grave, nem você nem eu existiríamos. Devo ter sangue de índio, se a cara de alguns antepassados não estava mentindo, mas o resto é um coquetel do que veio depois: português, negro, alemão, italiano. Se existisse, eu estaria numa reserva.

Como seria se os holandeses tivessem derrotado os portugueses e colonizado todo o Brasil? Para começar, nossos padrões de beleza seriam completamente outros. Em vez de morenas, nossas mulheres seriam loiras de cabelo escorrido, e a brasileira mais conhecida no mundo seria alguma longilínea do tipo nórdico, chamada Gisele ou coisa parecida. Nem dá para imaginar.

Como seria se os franceses tivessem conseguido consolidar a sua civilização subequatorial por aqui? Sei não, talvez a comida não melhorasse tanto assim - também come-se mal na França, e vá encontrar uma boa feijoada com couve e torresmo - , mas quem nos assegura que hoje não teríamos uma Carla Bruni no Alvorada, congressistas que ficassem em seus lugares em vez de se aglomerarem na frente da mesa, na Câmara, um serviço público muito melhor e pelo menos mais quatro feriados nacionais (Dia da Bastilha, Dia do Armistício de 18, Dia do Armistício de 45, Dia do Queijo Fedorento etc.) por ano?

Talvez fôssemos corruptos do mesmo jeito, já que deve ser alguma coisa na água. Mas as conversas grampeadas seriam em francês! Quer dizer, uma coisa de outro nível.

CINCO CEGOS

Todos conhecem a história dos cinco cegos e do elefante. Cada cego apalpa uma parte do elefante e identifica um animal diferente. Significando que as pessoas, às vezes, julgam coisas grandes por sua área limitada de conhecimento, ou que toda interpretação é subjetiva, ou que o pessoal do circo deveria controlar melhor o acesso a seus animais.

Homero, que ninguém sabe se existiu mesmo, mas, se existiu, era cego; James Joyce, que não era totalmente cego mas enxergava pouco; Jorge Luis Borges, Ray Charles e Mr. Magoo, por exemplo. Cada um apalpando uma parte do elefante.

Homero: "Não sei que bicho é, mas cabem muitos gregos nesta barriga...".

Joyce: "É um animalegórico buce-fálico simbioselizando a androginergia da raçumanancial primEva, e estas bolas são decididamente irlandesas".

Borges: "Este deve ser um dos 87 troncos que sustentam o Palácio dos Pavões em Samarkand, onde está a biblioteca circular do príncipe Rhamapu, onde há um único códice que contém a única imagem conhecida do Palácio dos Pavões em Samarkand, onde está a biblioteca circular do príncipe Rham´apu, onde há um único códice que contém a única imagem conhecida do Palácio dos Pavões em Samarkand, onde está a biblioteca circular do príncipe Rham´apu, onde há um único códice que contem... Estranho: a imagem de um elefante!".

Mr.Magoo (que entrou na boca do elefante pensando que era o banheiro): "Help!".

Ray Charles (acariciando a cauda peluda do elefante): "Georgia!".

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