sábado, 12 de abril de 2008



12 de abril de 2008
N° 15569 - Paulo Sant'ana


Um erro de cálculo

Ouvi num debate radiofônico de ontem, o coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante-geral da Brigada Militar, declarar que uma prova de que a Brigada Militar está em grande e eficiente atividade é que os presídios estão abarrotados de presos.

Sem dúvida alguma, a Brigada Militar está em grande e eficiente atividade. Miseravelmente paga, há 13 anos os governos não reajustam os soldos policiais no RS, o que é uma selvageria administrativa, diante de que nos supermercados os aumentos de preços dos gêneros são escandalosos nos últimos tempos, além das tarifas todas que sobem de preço desumanamente, a Brigada Militar resiste a esse genocídio de seu pessoal e continua a prestar relevantes serviços à coletividade.

Em primeiro lugar, estranhei que o subcomandante tivesse dito que a prova de a Brigada Militar estar agindo eficientemente está em que os presídios vivem abarrotados de presos.

A omissão da Polícia Civil na fala do coronel talvez deva ser debitada a resquícios da maldita rivalidade que ainda sobrevive em alguns espíritos nas duas polícias.

Porque a omissão da Polícia Civil não se justifica na frase do coronel, nenhum preso entra nos presídios sem participação da Polícia Civil. E grande parte dos presos entra nos presídios com a participação decisiva da Brigada Militar. O coronel decerto se esqueceu da polícia coirmã.

Mas isso que escrevi aí atrás não é o mais importante na fala do coronel. O mais importante é que não é pela indiscutível eficiência da PM - e da PC - que os presídios estão abarrotados.

Os presídios estão abarrotados por falta de presídios. Por falta de vagas nos presídios.

O coronel Mendes nem cadete era quando eu já clamava por construção de presídios na televisão e aqui no jornal.

Como é, então, que os presídios estão abarrotados pela ação da polícia?

Nada disso, se as ações da polícia se fossem reduzidas em 60%, ainda assim os presídios estariam abarrotados.

Pela simples razão de que, em celas onde cabem oito presos, estão instalados 32. É uma promiscuidade só. É uma desumanidade só. É uma selvageria só.

Há um caso numa prisão brasileira em que o diretor do presídio mudou o gabinete da direção do presídio, isto é, seu gabinete, para um prédio longe do presídio. De medo dos presos.

Há diretores de presídio que não entram nas galerias do seu presídio, de medo dos presos.

E há milhares de casos de galerias e celas de presos que são administradas pelos próprios presos. Incrível, lamentável, triste, desanimador.

Então não é a polícia, ou a Brigada, como vaidosamente corporativo disse o coronel, que abarrota os presídios. Quem o faz é a desídia e a irresponsabilidade políticas e administrativas.

São os governantes omissos que não constroem presídios, daí por que saúdo que foi anunciado ontem um complexo prisional em Guaíba, a ser construído creio que brevemente, embora eu seja cético a respeito.

Me deixaram cético, coronel Mendes.

E o senhor me deixou confuso. Mas depois refleti e assentei meu raciocínio: quanto mais as polícias forem eficientes, mais abarrotados estarão os presídios.

Mas se as polícias por acaso fossem ineficientes, ainda assim os presídios estariam abarrotados.

Isto me parece mais claro de que as bactérias dos hospitais se transmitem pelas mãos.

E por isso, evite o aperto de mãos: ele transmite bactérias.

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