sábado, 19 de abril de 2008



19 de abril de 2008
N° 15576 - Nilson Souza


A outra menina

Todos estamos sofrendo com este episódio horroroso da menina lançada pela janela do edifício em São Paulo. Tudo é doloroso no caso: a crueldade do crime, as suspeitas sobre as pessoas que deveriam amá-la e protegê-la, as acusações, as defesas, os testemunhos e também as notícias em torno da tragédia.

Muitas notícias. Notícias demais. Repetitivas. Extenuantes. Revoltantes, até. Como costuma acontecer em casos policiais que se arrastam em ritmo de novela, já tem muita gente querendo matar o mensageiro.

Todo dia ouço alguém responsabilizando a mídia por fazer sensacionalismo, por explorar o sentimento de morbidez do público, por manter o assunto nas manchetes supostamente para vender jornais.

Até parece que algumas pessoas, inconformadas com a falta de explicação para a insanidade cometida contra uma criança, tentam transformar a imprensa no bode expiatório de suas dúvidas e aflições.

Ora, vamos devagar. Se todos corremos para a frente da TV quando o apresentador fala no caso, ou se procuramos nos jornais e revistas os detalhes que ainda não conhecemos, é porque nós estamos alimentando esse monstro midiático que nos assusta e nos causa desconforto. Claro que a mídia comete seus erros e exageros.

Pior do que isso: na ânsia de informar rapidamente e de interpretar, muitas vezes opera injustiças, condena inocentes, arranha reputações e atua de forma irresponsável. Mas a mídia é uma hidra de muitas cabeças - e é injusto considerá-las uma coisa só.

Quem erra, quem faz sensacionalismo e quem age de forma leviana geralmente paga caro por isso, seja pela via judicial, seja pela mais justa e eficiente das punições, que é a rejeição do público. Numa democracia, o poder está com os indivíduos, que podem trocar de canal, escolher outra publicação, acessar a informação pela maneira que melhor lhes convier.

Mas é injusto condenar à execução sumária o mensageiro da má notícia.

Alguém tem que fazer esse trabalho. Nós, jornalistas, não gostamos de dar notícias ruins, até mesmo pelo fato de que somos os primeiros a conhecê-las e a sofrer com elas. Esse episódio da menina paulista é daqueles que todos preferiríamos não relatar.

Porém, uma suposta omissão nesse caso seria quase uma cumplicidade com quem cometeu o crime e um descaso com outra menina extraviada que precisa urgentemente ser encontrada para ser protegida. Ela se chama Verdade.

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