sábado, 26 de abril de 2008



26 de abril de 2008 | N° 15583
Paulo Sant'ana


Um chope pra distrair

Foi tão grande a alaúza que a imprensa fez ontem pelo fato de o secretário do Planejamento, Ariosto Culau, ter tomado um chope em companhia de Lair Ferst, ex-eminência parda do governo estadual, num shopping da Capital, que fui vasculhar o Código Penal para ver se havia o delito "tomar um chope pra distrair".

Não havia o delito. Então, se infração houve, foi ética: o secretário Ariosto Culau não podia de forma alguma ingerir bebida de álcool, contrariando os princípios rígidos do seu colega, o secretário José Francisco Mallmann, da Segurança, que quer abolir as bebidas alcoólicas em todo o Estado.

Por essa mesma dedução, o secretário Ariosto Culau, se estivesse bebendo uma guaraná com Lair Ferst, a imprensa e os integrantes da CPI do Detran não teriam feito qualquer estardalhaço. O problema foi só o tipo de bebida.

O próximo encontro de Culau com Lair Ferst - acredito que não cessarão suas conversas - terá de ter o cuidado de ser brindado com sucos de frutas. De preferência, laranja.

Laranja é a fruta ideal para regar o Escândalo do Detran.

Por sinal, estamos sendo acometidos há semanas por um estranho furor ético. Primeiro, quando o presidente do Tribunal de Contas, João Luiz Vargas, foi fazer uma visita domiciliar a José Fernandes, envolvido na Operação Rodin.

Agora, um secretário de Estado foi tomar um simples chopinho com outro envolvido no escândalo.

Eu pergunto: é proibido? Se um grande amigo meu, por desventura, cometer qualquer crime, seja até de corrupção, eu não só vou tomar um chope com ele, visitá-lo em sua casa, como até visitá-lo no presídio, acaso para lá ele seja encaminhado.

Então qual é o problema?

Posso estar sendo incauto ao estranhar esse excesso de pudor, mas há um detalhe que reforça minha tese. Tanto João Luiz Vargas quanto Ariosto Culau não se precaveram por qualquer forma para se encontrarem com José Fernandes e Lair Ferst, investigados na CPI do Detran.

Ou seja, foram de peito aberto, um visitar a casa do amigo, outro tomar um chope com o amigo. Portanto, não se esconderam. Estavam à disposição das fotos dos fotógrafos.

Não foi aquela coisa de se esconderem, de se esgueirarem, de usarem de disfarces para se encontrarem com seus amigos. Eles foram de cara limpa.

Qual é o problema?

Fosse por isso e ninguém mais podia se encontrar com o José Dirceu ou com o Delúbio Soares. E muita gente ilustre se encontra.

Qual é o problema?

Uma pessoa não morre para o mundo quando comete um delito, muito menos quando está sendo apenas acusada de cometer um delito.

Esta semana, por outro fato, desta vez esportivo, me convenci de que vivemos um clima de liberdade de imprensa. O que não existe é sinceridade da imprensa.

Para fazer tudo que fez quarta-feira aquele árbitro no Beira-Rio, se foi de graça, sem ganhar nenhum tostão, então é porque ele é muito burro.

Há uma tentativa de me fazer torcer por um novo estádio do Grêmio, a ser construído no bairro Humaitá, denominado Arena. Querem que eu torça por estádio e eu quero torcer por time. Eu quero é time no Grêmio.

Recuso-me a torcer por estádio. Não torço por Coliseu. Eu quero é torcer por cristãos sendo devorados por leões. Eu quero é espetáculo. Em suma, eu quero é time.

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