sábado, 26 de abril de 2008



27 de abril de 2008
N° 15584 - Martha Medeiros


Nós, os homens

Recentemente participei de um evento em um bar de Porto Alegre, onde foi organizado um sarau filosófico (totalmente informal e divertido, senão nem estaria lá) cujo tema a ser debatido era a felicidade.

Na hora de dar início ao papo, um dos anfitriões da noite pegou o microfone para me apresentar à platéia e então fui surpreendida. Ele disse mais ou menos o seguinte: "Eu deveria chamar agora uma das melhores colunistas do país, mas eu prefiro dizer que ela é um dos melhores colunistas do país, porque acho que ela já ultrapassou esse sexismo".

E me chamou. Tirado o susto de eu estar, na opinião dele, entre os the best of, o que me agradou é que não sou mesmo chegada a clubes da luluzinha e sempre defendi que homens e mulheres fazem parte da mesma turma, logo, adorei essa ampliação de mercado.

Foi um bom começo para debater a felicidade, sensação que se atinge, entre outras coisas, pelo espírito aberto e pelo bom humor, e não pelo complexo de perseguição: "Humm, será que ele foi machista e quis dizer que sou boa porque escrevo como um homem?".

O gênero humano é designado pelo masculino: quando se diz que o homem está destruindo o planeta, não significa que não haja mulheres contribuindo para a devastação. Somos todos homo sapiens, expressão que sugere uma figura de barba e bigode, mas também podemos ser chamados de pessoas, substantivo feminino plural. Tudo retórica, né?

Nós, os escritores. Nós, os brasileiros. Nós, os cozinheiros. De que sexo somos nós enquanto coletividade? Neka Menna Barreto, Roberta Sudbrack, Carla Pernambuco e Carol Heckmann, pra citar a categoria profissional homenageada nesta edição do Donna ZH, estão entre os grandes chefs de cozinha do Brasil, ao lado (não atrás, nem na frente) de Alex Atala, Felipe Bronze, nosso estimadíssimo José Antonio Pinheiro Machado e os franceses que aqui se instalaram, Philippe Remondeau, Claude Troisgros e Olivier Anquier, quase brazucas, não fosse o sotaque.

Toda essa confusa e delirante introdução é pra dizer que, além de não me importar em ser considerada "um deles" (sejam eles quem forem) e prometer me esforçar mais para continuar sendo um bom colunista (ops, quis dizer boa), a partir de agora vou me dedicar a ser também uma cozinheira ao menos razoável.

Porque é inadmissível que, ao contrário da maioria dos meus amigos machos, que são ótimos de forno e fogão, eu não consiga preparar meus próprios suflês, não saiba o ponto certo de cozinhar um camarão, não tenha noção de como se deixa uma batata frita bem sequinha, deixe sempre o bife passar do ponto e mal saiba como temperar uma salada decentemente.

Está decidido: às panelas. A partir deste mês vou ter aulas com uma mulher e serei ainda mais feliz: vou cozinhar feito um homem.

Um excelente domingo e um ótimo início de semana.

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