terça-feira, 29 de abril de 2008



O MELHOR DOS MUNDOS

Outro dia, conversando com Dominique Wolton, em Paris, fiquei pensando: faz tempo que sabemos estar no melhor dos mundos. Leibniz e Voltaire, por razões opostas, mas complementares, já haviam falado disso.

Hoje, porém, podemos ser mais precisos e dar o nome do melhor dos mundos: Estados Unidos da América. Alguns aspectos desse mundo ideal se destacam. Por exemplo, o sistema de saúde norte-americano.

Pratica-se até a morte o princípio de competição norteador da vida e de uma cultura bem-sucedida. Quem não tem dinheiro, nem um seguro de saúde privado, entrega mais rapidamente a alma a Deus. Nada mais justo. A cada um segundo as suas possibilidades, a sua poupança e o limite do seu cartão de crédito.

O documentário de Michael Moore sobre o assunto poderia ser instrutivo, não fosse o diretor suspeito de falsificação por ver defeitos grotescos num sistema impecável e, acima de tudo, altamente eficaz.

Outro elemento impressionante no melhor dos mundos americano é o sistema eleitoral. Um presidente da nação pode ser eleito com menos votos que o seu oponente. Esse fator de correção elimina o anacronismo que consistia em dar a cada cabeça um voto. Na guerra em nome da democracia, o modelo americano também atingiu a perfeição.

Pode-se declarar guerra a um país com base numa mentira descarada desde que os fins justifiquem os meios. O melhor dos mundos na era do império americano conta com apenas uns 2 bilhões de seres humanos passando fome. Um mero detalhe.

O continente africano continua mergulhado na miséria. A poluição ameaça o equilíbrio da biosfera. Guerras de religião ressurgem em vários lugares. Novos e velhos preconceitos dividem os homens. Que paradoxo! Nunca o mundo foi tão bom mesmo sendo ruim.

Em países europeus, como a França, tudo vai de mal a pior. O Estado garante educação e saúde de graça para todos. Nem precisa sistema de cotas.

Os medicamentos de cada um são gratuitos. Que atraso! Quanto protecionismo! Uma sociedade dessas representa um péssimo exemplo. Por causa desse tipo de sistema, uma espécie de comunismo capitalista, a França nunca passa de quarta, quinta ou sexta potência mundial. Um disparate.

Um pouco mais, e os franceses terão de declarar falência. Imaginem que, para cobrir o roubo da previdência, eles são obrigados a tirar dinheiro dos lucros das grandes empresas e das enormes fortunas, sob a forma de impostos, e repartir com a população.

Caso seguisse os bons exemplos de certos países asiáticos, reduzindo os chamados direitos sociais ao mínimo, a França daria um salto de qualidade nas suas contas e se tornaria um parceiro ideal para negócios.

O Brasil também poderia transformar-se numa potência moderna e digna de figurar na confederação dos melhores do melhor dos mundos. Bastaria para isso adotar medidas progressistas como extinguir décimo terceiro salário, FGTS, multas e indenizações por demissão sem justa causa e férias pagas.

Por generosidade extrema, poderia manter uma semana anual de férias pagas. Tudo isso tolhe a liberdade de iniciativa. O Estado deve ser mínimo e só existir para salvar bancos e grandes empresas de quebras prejudiciais ao sistema.

Quanto ao mundo ainda em crise, por incompetência dos pobres, há uma solução fácil, prática e rápida: esterilização. Feito isso, teremos uma explosão de genialidade, com grandes artistas por toda parte. O melhor dos mundos é uma realidade americana.

juremir@correiodopovo.com.br

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