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segunda-feira, 21 de abril de 2008
21 de abril de 2008
N° 15578 - Luiz Antonio de Assis Brasil
Palavras (30)
Destino - Hitler, ao escapar da bomba-relógio de von Stauffenberg, disse ao espantado Mussolini que o destino preservara-o da morte.
Grandes personalidades declaram-se (pré)-destinadas. A caprichosa errância do acaso fica para as pessoas banais.
Já os gregos transformaram o destino numa entidade superior aos deuses.
Para os jansenistas de Port-Royal, Cristo morrera apenas para os predestinados à Graça. Entraram em confronto com os jesuítas, que defendiam o livre-arbítrio dado por Deus aos homens. A questão ainda não foi resolvida.
Cícero - Cícero viveu durante certo tempo em Puteoli, nas cercanias de Nápoles. Sua casa era grande, majestosa. Era aprazível. A aragem, ao perpassar os ciprestes, trazia o perfume de coisas antigas.
Ele recebeu a visita de seu amigo, o Cônsul Designado Hirtius, que o admirava como a um irmão. Hirtius vinha atormentado: esteve um longo tempo olhando as sombras que aos poucos invadiam o jardim.
Cícero pediu-lhe que falasse. Nos últimos tempos, eles dialogavam de modo obsessivo sobre o modo de salvar Roma depois do assassinato de César.
Cícero repetiu, que falasse.
Ele então falou: Hirtius preocupava-se, naquela tarde, com o destino humano.
Naquela tarde, salvar Roma deixara de ser importante.
Então Cícero, desculpando-se de que não era filósofo, explicou a Hirtius os diferentes pensamentos sobre a questão, firmando um ponto: o destino é o desconhecimento de certas coisas que devem acontecer sem que possamos interferir.
Um meteoro em rota de colisão com a terra necessariamente cairá nela. Isso não é destino. Isso decorre de causas naturais e antecentes ["causas naturalis et antecedentes"]; disse: isso não decorre do destino ["uis est nulla fatalis"].
Almas encarceradas em seus passados são as primeiras a socorrerem-se do destino. Admitir o destino é um conforto, uma segurança, uma fraude. Significa dizer que algo extranatural ocupa-se de nós. Mesmo que faça o meteoro cair sobre nossas cabeças.
Cícero escreveu um ensaio, "O destino" ["De fato"] para narrar essa lição a Hirtius. O escrito chegou a nossos dias, mas incompleto e confuso. Alguma causa natural e antecedente, como um raio, uma chuva, um gesto irado, danificou o escrito.
Podemos apenas imaginar Hirtius em sua exaurida e perturbadora sensação ao despedir-se de Cícero. A partir dessa tarde, falaram apenas de Roma.
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