sábado, 19 de abril de 2008



19 de abril de 2008
N° 15576 - Paulo Sant'ana


O fim da História

O papa Bento XVI acaba de deixar Washington, onde foi recebido pelo presidente George W. Bush.

O certo é que não tivesse feito essa visita, não tivesse pisado na Casa Branca, em protesto pelas violentas violações dos direitos humanos da nação norte-americana na invasão do Iraque, contra prisioneiros de guerra e terroristas.

O mais certo ainda seria que todas as igrejas cristãs do mundo, inclusive as norte-americanas, lançassem um manifesto contra aquelas bárbaras violações.

O Papa preferiu, no seu discurso da Casa Branca, apelar para Bush no sentido de que os EUA continuem tratando de solucionar conflitos com "o apoio paciente da diplomacia internacional".

Visivelmente, o Papa estava, nas cerimônias todas de que foi alvo na Casa Branca, engasgado com o patrocínio de Bush aos métodos desumanos utilizados pelas forças armadas americanas e presenciados pelo mundo inteiro na repressão aos prisioneiros iraquianos, maneira dissuasória encontrada para reprimir a insurgência.

Para falar mais claro, repugna a consciência cristã e civilizada do mundo que se tenha instituído pelos EUA, no governo Bush, o método da tortura como auxiliar da força bélica, tentando vencer o adversário tanto pelos canhões quanto pela dor física imposta aos inimigos nos interrogatórios.

Nunca a civilização moderna desceu tanto novamente aos padrões de barbarismo dos séculos e milênios passados como quando George W. Bush arrancou do Congresso e da sua nação a autorização para torturar prisioneiros, sob a chantagem de que só assim a guerra ou invasão poderiam se tornar vencedoras.

Essa escuridão civilizatória envergonha, assusta e desanima o mundo. São séculos e séculos de retrocesso, lançados à humanidade, estes, sim, como um terrorismo, sob a ameaça de que, não fosse concedida a tortura como única maneira de vencer o inimigo, os EUA corriam perigo em sua sobrevivência.

Se já a tortura como prática criminosa, praticada por cidadãos comuns, é repugnante, imaginem essa situação que vivemos hoje, quando o Estado norte-americano tem meios legais para exercitá-la, com todos os poderes que possui, sem limitações, sem repressão e com ciência meticulosa para sua prática.

É o fim do mundo. É o absurdo dos absurdos, o cúmulo dos cúmulos.

Não pode a lei que autoriza a tortura ser erigida destruindo outras leis.

Autorizar pelo Congresso e pela Justiça norte-americanas que possam prisioneiros de guerra e acusados de terrorismo ser submetidos a afogamentos simulados e outros métodos de tortura é espalhar pelo mundo a inspiração a esses crimes, incentivando nações, etnias, agrupamentos e aglomerações, além de indivíduos em separado a cometer os mesmos atos reprováveis.

É uma catástrofe moral. É um regresso ético incomparável.

É um abismo na consciência universal.

É o predomínio da selvageria.

É um desastre ecológico.

É um atentado aos mártires, aos profetas, aos filósofos e aos gênios.

É um incêndio na cultura.

E, principalmente, é a volta de tudo que a Antigüidade sujou na História.

Nenhum comentário: