segunda-feira, 7 de abril de 2008



Banqueiros: América Latina ainda é vulnerável

José Meirelles Passos
O Globo - 7/4/2008


Estudo do IIF alerta para efeitos da desaceleração dos EUA na região, mas ressalta que Brasil está em melhores condições

Apesar de economicamente mais forte, depois de cinco anos consecutivos de sólido crescimento, a América Latina permanece vulnerável a três fatores: uma severa desaceleração nos Estados Unidos; um considerável choque em termos de comércio; ou um substancial declínio na entrada de capitais na região.

Esse foi o diagnóstico apresentado ontem pelo Institute of International Finance (IIF), que reúne os 375 maiores bancos do mundo, como resultado de um estudo sobre as conseqüências da crise de crédito desatada pela implosão do mercado hipotecário americano.

O problema seria que a formação de capital estável como percentagem do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) permanece baixa "virtualmente em toda a região", sem crescer suficientemente rápido "para apoiar um crescimento adequado para superar, em base sustentável, os problemas de pobreza e desigualdade de renda", diz a pesquisa.

Segundo informe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgado ontem, o número de pobres na América Latina e Caribe diminuiu de 194 milhões para 190 milhões de pessoas no ano passado.

- É importante enfatizar os êxitos que temos visto em muitos países na região. Mas é preciso considerar, também, que vivemos numa economia global interdependente.

Portanto, a volatilidade excepcional em mercados financeiros desenvolvidos e a desaceleração na economia dos EUA estão impactando, e continuarão a impactar, o desenvolvimento e as perspectivas para a América Latina - alertou William Rhodes, presidente do Citibank e primeiro vice-presidente do Conselho do IIF.

Segundo a instituição, "ainda não está claro se a região fez progresso suficiente para manter um crescimento rápido de longo prazo". Especialmente, ressalta, frente a "desafiadoras condições externas, que incluem liquidez reduzida e crescente aversão de risco por parte dos investidores".

- Embora não antecipemos uma grande redução de capital em mercados locais, o desenrolar da atual crise de crédito pode vir a resultar em grandes saídas de capital que não tinham sido previstas - disse Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.

Brasil: "êxitos impressionantes no controle da inflação"

Tanto Dallara quanto Rhodes disseram ao GLOBO que o Brasil é o país da região com melhores condições de suportar o tranco da atual crise nos EUA. A expectativa dos banqueiros é que, apesar de tudo, o país terá um equilíbrio fiscal mais sólido, contando ainda com a sustentação de um crescimento econômico mais forte.

- O Brasil tem obtido, além de tudo, êxitos muito impressionantes no controle da inflação - destacou Dallara.

Em função do atual cenário, o IIF calcula que a América Latina crescerá este ano 4,4% (contra 5,3% em 2007), e o Brasil, 5,4% (frente aos 3,8% do ano passado).

E ressalta que, no Brasil, "apesar de crescentes gastos, o crescimento mais forte da arrecadação tem permitido ao governo reduzir o déficit".

Para o IIF, se a região se mantiver relativamente imune à crise, os fluxos líquidos de capital privado atingirão este ano um volume próximo do nível recorde de 2007, de US$130 bilhões.

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