quinta-feira, 17 de abril de 2008



17 de abril de 2008
N° 15574 - Paulo Sant'ana


A dor da genialidade

Um dos equívocos mais correntes no mundo moderno é a confusão que se faz com o homem culto, preparado, eficaz nas suas ações particulares e profissionais e o mesmo homem sem nenhum talento e inteligência.

Não raro se considera inteligente um equilibrista ou um trapezista que obtêm algum destaque em sua atividade circense mas que nunca obtiveram do público um estrondoso aplauso porque nunca criaram um lance de cabo de aço ou de trapézio em que tenham sido pronunciados o seu talento e sua criatividade de modo a empolgar a platéia ou levá-la ao delírio.

E, na vida real, em todas as profissões, tudo acontece como no futebol: há os jogadores medíocres e há os craques.

Já citei o caso de escritores que escrevem durante uma vida inteira, alguns até adquirem prestígio junto a determinado público não diferenciado, mas não vendem seus livros.

Houve até aqui no Rio Grande do Sul, poucas décadas atrás, o caso de um escritor muito conhecido que no entanto não era lido pelo público.

Há casos também de jornalistas que passam 50, 40 anos escrevendo em jornais e o público leitor nunca registrou na memória o que escreveram, não se conhece nenhuma frase deles e não se lembra qualquer matéria de sua autoria.

São essas pessoas admiráveis que passam pela vida sem destacar-se, mas nem por isso deixam de ser úteis para seus tempos e para seus espaços, nunca alçam vôos de águia ou condoreiros, mas seus vôos de galinha são insistentes e esforçados.

Essas multidões de medíocres são os donos do mundo, constituem-se em expressivas maiorias em suas colmeias de trabalho, não raro suplantam em mérito e em nome os que não são medíocres e possuem talento, seja pela esperteza delas, seja pelo esforço que mascara a inteligência, seja também porque os raros gênios que vicejam no seu meio ou não são reconhecidos, ou são amassados pelo tropel do rebanho.

Mas quando uma inteligência superior irrompe entre a horda de mediocridade, quando a flor do pensamento superior, como a aptidão singular para o raciocínio luminoso, surge em qualquer agrupamento humano, então jorra uma tal luz transcendente sobre esse ambiente restrito que os raios desse brilho ofuscante não só se espalham pelo chão e pelo ar que cerca os integrantes embasbacados dessa coletividade como se arremessam para além do perímetro grupal e vão inundar de sabedoria ou arte, de conhecimento ou talento, de poesia, humor, ciência, outras cidades, os Estados, os países e o mundo.

Só que um gênio só se revela depois de muita dor e sofrimento. E principalmente de muita dúvida que se manifeste sobre ele.

Um gênio só se conhece depois que milhares de pessoas garantam que têm talento igual ao dele.

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