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terça-feira, 8 de abril de 2008
08 de abril de 2008
N° 15565 - Cláudio Moreno
Os traços do mestre Siza
Leonardo da Vinci afirmava que, na arte, a suprema sofisticação está na simplicidade.
O verdadeiro mestre faz uma obra que parece ter nascido naturalmente, sem esforço algum; os leigos, exatamente porque são leigos, juram que são capazes de fazer igual ou melhor - mas quem tenta imitá-lo descobre o quanto de talento e de habilidade se esconde por trás do mais ínfimo detalhe.
Os antigos já sabiam disso muito bem. Plínio, em sua História Natural, conta que Apeles, o maior pintor do mundo greco-romano, sábio o suficiente para reconhecer a qualidade dos quadros de seus colegas, ouviu tanto falar em Protógenes que resolveu visitá-lo pessoalmente.
Contudo, ao chegar à ilha de Rodes, onde ele vivia, uma velha criada informou-lhe que infelizmente o patrão havia saído. Vendo uma tela em branco apoiada a um cavalete, Apeles pegou um pincel e traçou a linha mais fina e mais perfeita que se podia imaginar: "Mostre-lhe isso quando voltar; ele saberá quem eu sou".
Efetivamente, ao ver aquele prodígio, Protógenes soube imediatamente que se tratava de Apeles - e, num impulso, pegou um pincel com outra cor e traçou uma linha ainda mais fina sobre a primeira; se o visitante voltasse, a velha deveria mostrar-lhe a tela e perguntar-lhe se aquele era o homem que ele estava procurando.
Como ele imaginava, Apeles realmente voltou e, sem dizer nada, escolheu outro pincel e dividiu a linha de Protógenes com um traço de cor diferente das duas primeiras.
Ao ver isso, Protógenes proclamou a superioridade de Apeles e decidiu que a tela devia ser guardada para a posteridade, para que todos pudessem apreciá-la, especialmente os artistas.
Plínio acrescenta que o quadro - um inusitado exemplo de arte não-figurativa em pleno Mundo Antigo - ficou exposto no palácio de Augusto até que, no 4º ano da Era Cristã, foi destruído por um incêndio, mas não antes que "o admirássemos muito, mesmo que sua superfície contivesse apenas aquelas delicadas linhas".
Algo semelhante aconteceu na velha China, durante a Dinastia Jin: Wang Xizhi, considerado o príncipe de todos os calígrafos, preparava seu sétimo filho, Wang Xianzhi, para ser seu sucessor.
Numa ocasião, o pai, que tinha começado a traçar grandes caracteres numa parede, foi chamado à capital e teve de interromper o trabalho.
O filho, julgando-se à altura do mestre, resolveu surpreendê-lo e desenhou o que faltava da inscrição. Quando voltou, o velho examinou longamente a parede e, para a vergonha do filho, exclamou, com um suspiro: "Eu devia estar muito bêbado quando escrevi isso!".
São raros esses mestres que podem confiar na sabedoria da mão; o seu traço, guiado não por seus músculos, mas por seu talento, sua cultura e sua experiência, jamais será arbitrário e sempre terá um sentido.
Álvaro Siza é um desses iluminados; o museu que ele projetou para nosso Iberê Camargo é sofisticadíssimo na sua alva simplicidade - como queria Da Vinci.
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