sábado, 19 de abril de 2008



20 de abril de 2008
N° 15577 - Paulo Sant'ana


A rapidez do Scliar

Dificilmente haverá sobre a face da Terra uma profissão mais sedutora e empolgante que a de comunicador.

Acho até que sei por quê. O comunicador vê avaliado o seu trabalho todos os dias, a toda hora sua atividade é passada no crivo dos ouvintes, leitores, telespectadores.

E não há nada mais instigante que ser analisado pelo público, pelas multidões, num balanço diário e sucessivo.

Se não houver concorrência no meio midiático, os proprietários dos meios de comunicação têm um grande aliado para adaptarem-se com vantagem ao mercado de trabalho: os comunicadores importam-se mais em empunhar o microfone e escrever nos jornais do que mais propriamente em interessar-se por seus salários.

Mas, quando se estabelece uma concorrência férrea entre os meios de comunicação, os salários dos comunicadores sobem a níveis extraordinários e às vezes até alarmantes, como acontece atualmente na televisão de Rioe São Paulo.

Eu já disse e escrevi: se fosse dono de jornal, o primeiro jornalista que contrataria seria o escritor Moacyr Scliar.

A disposição que o Scliar tem para escrever é algo anormal. Ele escreve em média seis colunas por semana. Eu, por exemplo, escrevo sete colunas por semana, mas sou um colunista diário, é diferente.

O Scliar escreve seis ou mais colunas para diferentes publicações.

Existem os colunistas generalistas, os colunistas multiespecialistas e os colunistas pleniespecialistas.

Os generalistas são os que sabem um pouco de alguns assuntos.

Os multiespecialistas são os que sabem muito de muitos assuntos.

E o Scliar é um pleniespecialista, ele sabe tudo sobre todos os assuntos.

Quando telefonam para o Scliar buscando que ele escreva uma coluna, já vão na certa: ele discorrerá sobre o assunto com a autoridade que derivará da sua pleniespecialidade.

E o mais importante: o texto do Scliar será irreparavelmente escorreito, inteligível e atraente.

Mas no meio desse conjunto de virtudes ainda sobressai um atributo decisivo do Scliar no jornalismo moderno: a rapidez.

Ele é apanhado de surpresa num tema que lhe lançam numa encomenda de coluna e em 15 ou 20 minutos a coluna está pronta.

É notável a sua capacidade de escrever, portanto raciocinar, em apenas 15 minutos.

O Scliar não faz isso, mas poderia fazer: chegar à redação e perguntar aos editores: "Sobre o que querem que eu escreva? De que estão precisando?".

É só passar a bola que ele emenda.

O Scliar adquiriu essa versatilidade pela prática. Esses dias, ele estava me contando que no início de sua carreira andava mergulhado em rascunhos, correções, recortes, escrevia muito pouco, atrapalhado com a organização dos textos.

Com o tempo, foi aprimorando o texto rápido e arrazoado, hoje é nisso um campeão nacional.

E, em realidade, o fato de ter-se tornado membro da Academia Brasileira de Letras é um prêmio justo para quem dedicou sua vida a escrever, a manejar a sua profissão com o método de juntar letras e palavras que signifiquem relatos e idéias, ligando-se intensamente com o mundo e com as pessoas através da expressão escrita.

Dá gosto ser colega de Scliar aqui em ZH.

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