terça-feira, 15 de abril de 2008



15 de abril de 2008
N° 15572 - Moacyr Scliar


A lei e o bom senso

O Legislativo catarinense acaba de aprovar projeto de lei proibindo a participação em desfiles de moda de modelos com índice de massa corporal abaixo do limite que caracteriza a desnutrição.

A razão é óbvia: para se adequar às exigências estéticas dos organizadores de tais desfiles, as candidatas a modelo recorrem a dietas extremas, muitas vezes chegando à anorexia nervosa: a pessoa evita de tal maneira o alimento, que acaba se desnutrindo e correndo risco de vida - foi assim que, em 2006, morreu a modelo Ana Carolina Reston. Portanto, a lei tem razão de ser.

A pergunta: seria mesmo necessária uma lei para que as pessoas se dessem conta disso? Não bastaria o bom senso? Não, infelizmente não basta o bom senso, que não é antídoto suficiente para estilos de vida descontrolados, em que as pessoas comem errado, bebem errado, recorrem a fumo e drogas.

E aí vem a lei, que eventualmente também tem as suas esquisitices: no século 19, na Alemanha, o código sanitário proibia dançar a valsa - achava-se que podia fazer mal à saúde. O ideal seria que as pessoas buscassem a racionalidade. Enquanto isto não acontece, a lei tem de preencher estas lacunas.

Excelente notícia: das 10 cidades brasileiras que se saíram melhor no Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, seis são gaúchas: São Leopoldo, que lidera o ranking, Caxias do Sul, Santa Maria, Porto Alegre, Novo Hamburgo e Canoas.

O fato, que ganhou destaque na imprensa nacional, apenas demonstra aquilo que já é bem conhecido: temos uma tradição educacional digna dos maiores elogios.

Para ela colaboraram os investimentos públicos em educação e a valorização, pelos imigrantes, da cultura e do conhecimento. Não é de admirar que os nossos indicadores de leitura sejam também os mais altos do país. Nesta área, temos muito a celebrar.

Falando em leitura e falando em RS, acabo de ter uma grande satisfação com o lançamento, na Colômbia, de meu livro La Colina de los Suspiros, novela juvenil baseada na história do glorioso Esporte Clube Cruzeiro, cujo estádio ficava na Colina Melancólica, entre os cemitérios da capital. Agora um pouco da saga do Cruzeiro atravessa as fronteiras.

Não é a primeira vez, aliás; anos atrás o Cruzeiro fez uma excursão internacional que, contra todos os malignos prognósticos, resultou numa sucessão de vitórias contra renomados times, e deu ao Cruzeiro o título de Leão da Europa. Espero que se torne também o Leão da Colômbia. As Farc que se cuidem.

Começou o Fronteiras do Pensamento. A programação deste ano está simplesmente sensacional.

Nenhum comentário: