terça-feira, 29 de abril de 2008



29 de abril de 2008
N° 15586 - Paulo Sant'ana


Árduo conjunto probatório

Com o auxílio do GPS, a polícia paulistana constatou a hora certa em que o carro de Alexandre Nardoni estacionou na garagem do edifício London. E, pelo depoimento dos vizinhos do apartamento de Alexandre, o corpo da menina Isabella caiu no chão do jardim 11 minutos depois.

Não havia tempo para surgir um terceiro personagem, intrometer-se entre o que Alexandre e a madrasta da menina estavam fazendo e matar Isabella.

A polícia descarta categoricamente a existência de um terceiro personagem e atribui ao casal ter-se dirigido da garagem até o apartamento com o corpo da menina.

Havia manchas do sangue de Isabella no carro. Havia manchas de sangue no corredor. Havia manchas de sangue na rede de proteção da janela. Havia manchas de sangue no chão do apartamento e no chinelo de Alexandre.

As manchas de sangue no carro são fatais para o casal. Porque não interessava a nenhum provável terceiro personagem qualquer mancha de sangue no carro. Qualquer mancha de sangue no carro importava em presença de Alexandre e/ou sua mulher no carro quando a mancha foi derramada.

O carro está ligado umbilicalmente ao casal, que admite ter chegado ao edifício nele, apenas alega que a menina, que estava no carro com os irmãos, chegou intacta ao edifício, tendo sido morta depois por um mitológico desconhecido.

Como então haver manchas de sangue no carro?

As manchas de sangue no carro são uma das mais pesadas provas contra o casal.

A pegada do chinelo que Alexandre usava estava visível no lençol que cobria o colchão da cama do quarto das crianças, de onde foi atirado o corpo de Isabella.

Depreende a polícia, assim, que Alexandre ergueu o corpo de Isabella de cima da cama, posição mais confortável.

Se não fosse para erguer o corpo de Isabella com menos esforço, que outro motivo teria Alexandre para subir com o pé em cima da cama?

Na camisa de mangas curtas que Alexandre usava quando ocorreu o crime, havia as marcas em quadrados contíguos da rede de proteção da janela do apartamento de onde Isabella foi atirada.

Eram marcas do pó, da sujeira, da fuligem que restavam nos fios da rede e que se transferiram para a camiseta de Alexandre com a pressão que seu corpo fez contra a rede para segurar o peso do corpo de Isabella.

Marcas com o desenho da rede.

Nítidas marcas da rede na camisa, provas indubitáveis da autoria de Alexandre no assassinato.

Um assassinato cometido às pressas, mal deu para limpar com um pano as marcas de sangue por toda a parte, que ainda permaneceram indeléveis em muitas partes.

Muita pressa, muito nervosismo. E pressa também em combinar a versão profundamente ficcional de que alguém tinha entrado no apartamento.

Um crime que começou com maus-tratos a uma criança, um acesso de fúria incontrolável, a tragédia da morte ou da quase morte, o desespero, uma criança martirizada e um consórcio criminoso entre duas pessoas sem saída, que resolveram tentar a sorte em serem julgadas pelo júri, quando poderão ter mais sorte do que a imensidão da sua crueldade.

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