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quinta-feira, 17 de abril de 2008
Sonho utópico de transformações
Quinta-feira, 17/04/2008, Paraná On-line, Pág Opinião
Eudes Moraes - “Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.” (William Shakespeare)
Milhares de brasileiros sonham com os acumulados prêmios da Mega-Sena. Como sonhar ainda não paga impostos é bom sonhar. Os prêmios são cobiçados porque despertam ambição.
Filas enormes de sonhadores se formam diante das lotéricas. Muitas pessoas têm esperança de ganhar para mudar suas vidas e a do Brasil.
Quem sonha faz planos onde investir. Sonha-se com uma vida melhor, pagar todas as dívidas, adquirir a sonhada casa própria e revesti-la de conforto, ter uma equipe de serviçais, ter o seu próprio negócio e ajudar a quem precisa.
Comprar automóveis de luxo, viajar, divertir-se, desfilar no mundo glamouroso das festas de Hollywood e navegar por lindos mares em navios famosos. Enfim, realizar todas as fantasias que a imaginação produz.
Curtir todos os prazeres da vida com as melhores companhias, nos melhores restaurantes e nas melhores casas noturnas, trocar o guarda-roupa por grifes famosas, dar festas regadas pelos melhores champanhas e ao som de orquestras que darão o ritmo da noite.
Cada um nutre a expectativa de ser o vencedor, daí porque aposta. Não fosse essa crença que domina a mente do apostador, não ocorreria esse fenômeno de tanta euforia e crença.
A esperança de acertar é o estímulo que promove a corrida às casas lotéricas e faz com que as pessoas esperem, pacientemente, a sua vez nas enormes filas.
O sonho embala o mundo. Como todos sonham e imaginam-se ganhadores, numa população de milhões de pessoas, teoricamente, temos uma população rica e por via de conseqüência um país rico, pois a soma dos valores que gira pelas cabeças faz um meio circulante de volume incalculável. Lá vêm mais sonhos!
Imaginemos que essa alegoria pudesse se tornar real. O Brasil teria todos os seus problemas sociais resolvidos. O Produto Interno Bruto (PIB) ultrapassaria os 11% da China.
O nosso País diminuiria o tamanho da máquina pública, ministérios seriam extintos, promover-se-ia reforma administrativa, reforma política e tributária, os impostos seriam reduzidos e simplificados e as estradas se transformariam em vias duplicadas e sem buracos.
Com tanto dinheiro seria o adeus ao índice elevado de desemprego; o analfabetismo e a violência urbana seriam erradicados, acabaria a miséria e o governo não mais precisaria tomar empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para financiar a Bolsa-Escola.
O programa Fome Zero seria extinto, todos teriam casa própria, as questões sérias de saúde estariam resolvidas e não teríamos filas e falta de médicos nos postinhos do Sistema Único de Saúde (SUS); o mosquito da dengue, essa vergonha nacional, seria erradicado, deixando de matar brasileiros.
Com a democracia solidificada o Estado Democrático de Direito seria uma prática e o uso do cartão corporativo pelo gabinete da Presidência da República seria utilizado com transparência, sem precisar se esconder numa “caixa-preta” sob o manto do falacioso segredo de Estado. A corrupção sumiria do mapa e os direitos humanos seriam respeitados.
O Congresso Nacional seria diminuído na quantidade de deputados e senadores. Sucessivamente, diminuir-se-ia o número de deputados estaduais e vereadores.
Ah! Se tudo isso se tornasse real! O Ministro da Fazenda passaria a ter problemas com superávit de caixa e conclamaria a nação para importar e consumir supérfluos.
A indústria automobilística nacional não conseguiria fabricar e atender a demanda e os navios com carros importadores ficariam congestionados em portos de infra-estrutura invejável.
Sonhos de noites de verão! Como “na prática a teoria é outra”, o que é “real” é a moeda e o Brasil continua sendo o contrário de todos esses sonhos. Enquanto não se ganha na Mega-Sena, resta continuar sonhando por dias melhores, com um Brasil mais justo, mais humano e com mais vergonha na cara.
Eudes Moraes é empresário, poeta e escritor, com formação em Psicologia, Teologia e Direito.
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