segunda-feira, 21 de abril de 2008



21 de abril de 2008
N° 15578 - Paulo Sant'ana


Mas e a fraude?

Uma das imoralidades mais revoltantes é a fraude nos concursos públicos em prefeituras do Interior, descobertas pelo Ministério Público estadual.

Mais de cem prefeituras são suspeitas de praticar a fraude, mudando resultados. Prefeitos, secretários e vereadores protegeriam seus candidatos, invertendo o mérito, destruindo sonhos e esperanças.

Tem gente que concorda que se deva reprovar, contra o mérito, muitos candidatos, para ceder vagas a quem sabe menos.

É demais!!!

Mas existe quem seja a favor dessa fraude, pasmem. Tem gente que concorda com a fraude.

É uma pena que o leitor que se declara a favor pediu para não ser identificado, mas seu argumento é tão exótico que vale a pena lê-lo.

Eis o argumento: "Caro Pablo. Acompanhando a suspeita de fraudes das prefeituras de pequenos municípios nos concursos públicos, gostaria de colocar a minha posição a respeito, visto que esta moeda, como todas as outras, tem dois lados.

Num primeiro momento, nos parece que esse artifício seja uma maneira de viabilizar apadrinhamentos. Contudo, para as pequenas comunidades o que acontece hoje também tem outro enfoque muito importante.

Se tornou comum a entrada através de concursos públicos de concurseiros profissionais, que não atuam nas profissões e usam o seu tempo apenas para o estudo das questões teóricas da profissão, atraídos muitas vezes pela qualidade de vida de nossas cidades (principalmente da serra gaúcha).

Esses indivíduos, na maioria das vezes, nunca exerceram a atividade, não têm intimidade com a região, comunidade, costumes e dialetos. São pessoas que não se encaixam no perfil do profissional com visão social (muitas vezes são jovens de grandes cidades, recém formados, imaturos), do nosso Estado e imigrantes de outros.

O que observamos hoje é, muitas vezes, profissionais já estabelecidos, oriundos do próprio município, com família e plenamente entrosados na comunidade, se vendo excluídos do seu meio, tendo que mudar de cidade, pois o mercado é diminuto e não comporta a entrada de profissionais de fora, ficam excluídos das vagas.

Temos um município do Vale do Caí, por exemplo, onde foi aberto concurso para uma vaga apenas. O profissional que residia lá, nascido no local, com família, e que com sacrifício conseguiu concluir o curso superior, acabou ficando em segundo lugar e desclassificado, tendo que mudar de cidade com sua família e buscar outro local para exercer sua atividade.

O profissional recém formado em Porto Alegre assumiu a vaga nem conhecendo onde fica o município, levado pelo pai, não fala o dialeto da região, se restringindo no atendimento, não conhece os costumes e pessoas do município e comenta:

- Não vejo a hora de me aposentar!

Ou seja, caro Pablo, existe uma distorção dessa lei de concursos que não privilegia a prata da casa, forçando o êxodo das pessoas que investem o seu tempo para reinvestir em seu município e em suas comunidades.

Sabemos que existem peculiaridades no nosso Estado que não há em outros, como a questão da colonização, que limita a inclusão social de pessoas de fora e isto não deveria acontecer, contudo sabemos também que privilegiar pessoas que não têm perfil, currículo e características para atender essas comunidades talvez não seja o mais correto."

(O autor pediu para não se identificar, talvez por envergonhar-se de dar uma opinião absurda como esta.)

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