terça-feira, 15 de abril de 2008



15 de abril de 2008
N° 15572 - Paulo Sant'ana


Transporte do mosquito

O leitor Ricardo DallAqua (ricardo@disklicit.com.br) manda dizer que no seu bairro, Petrópolis, estão aparecendo vários tipos de mosquitos assemelhados com o mosquito da dengue, que ele conheceu pela internet.

Diante da ameaça de um surto de dengue em Porto Alegre, o leitor telefonou para a Secretaria da Saúde (51 3289-2899) e (51 2105-2899), informando sobre o fato.

Resposta chutadora, maldita resposta chutadora, é assim que eles atendem a todos os contribuintes que telefonam para eles: mandaram ligar para a Vigilância Sanitária, que também chutou e remeteu para o telefone 156.

No telefone 156, o leitor, já cansado de ser um ioiô nas mãos desses prestidigitadores de ligações, que um dia ainda serão varridos do serviço público por alguém interessado em ajustar a máquina que humilha os cidadãos, finalmente falaram com ele.

Fizeram muitas perguntas, ele explicou que lá em Petrópolis, perto da casa dele, andam aparecendo muitos mosquitos com o tipo do que transmite a dengue, que ele conhece porque viu na internet.

Ainda no telefone 156, disseram para o leitor que não poderiam ir lá em Petrópolis apanhar o mosquito e levá-lo para a Secretaria da Saúde.

E pediram para o leitor levar o mosquito até a Secretaria da Saúde.

Isto é de uma estupidez sórdida. Se todos os cidadãos forem incentivados a levar o mosquito da dengue (ou provável mosquito da dengue) até a Secretaria da Saúde, a metade será picada, as pessoas comuns não têm treinamento para capturar mosquitos sem serem picadas.

Que barbaridade! O cidadão é obrigado a levar o mosquito até a Secretaria da Saúde. A seguir, o cidadão será obrigado a levar o doente de sua família, com dengue, até o hospital. E, no passo seguinte, o cidadão terá de ir ao hospital buscar o cadáver de seu familiar, morto pela dengue.

E o poder público, ocioso e amorcegador, não faz nada? Como é que é?

Não faz nada no iminente surto da dengue e não fez nada no surto epidêmico das sistemistas do Detran? E só foi assistir passivamente à higienização de alguns hospitais depois que o surto das bactérias foi divulgado pela imprensa?

Mas o que é que faz o poder público. Como é que é?

O próximo passo do poder público vai ser pedir para o público que leve até o prédio da secretaria as bactérias.

- Está cheio de bactérias o meu prédio, telefone 156.

- O senhor terá de trazer essas bactérias até o prédio aqui da secretaria.

- Mas eu não enxergo as bactérias.

- O quê? Mas ainda não comprou um microscópio com toda essa onda que o Paulo SantAna vem fazendo para instruir a população?

- Sai muito caro.

- É mais barato que um funeral.

E assim vai a saúde entre nós. Há hospital que acha que não tem obrigação de tornar público por que bactéria morreu o paciente. Isso causa náusea e faz desanimarem o ser humano e as pessoas públicas.

Há serviço de saúde pública exigindo que os cidadãos levem até a Secretaria da Saúde, transportem por seus meios, mosquito suspeito de transmitir a dengue.

Tem de levar até lá o mosquito que estiver rondando a sua casa. Não imagino como levar o mosquito nem como capturá-lo.

Mas tem de levar.

E o presidente Lula disse aqui, numa solenidade no Grupo Hospitalar Conceição, que a saúde no Brasil beira a perfeição.

Credo em cruz!

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