Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
25 de abril de 2008
N° 15582 - José Pedro Goulart
O padre voador
Quem passa os olhos eventualmente por essa coluna sabe que o Kurt Vonnegut já sofreu algumas citações por aqui. Diante dessa intimidade é que me sinto à vontade de usufruir (roubar) uma idéia que o escritor teve numa série para rádio chamada Deus o abençoe, Dr. Kevorkian.
Nos programas, Vonnegut era um "repórter do além", isto é, ele ia (com a ajuda do dr. K) até o "outro lado", pegava uma palavrinha com um ex-vivente, e retornava para contar. Ano passado, o velho Kurt foi até lá novamente. Só que não voltou. Ainda.
Usei a mesma técnica e fui bater um papo com o padre Adelir de Carli, que no domingo alçou vôo puxado por balões tentando bater um recorde de distância. Encontrei o vigário recém-chegado no céu, mas já na companhia de semelhantes, como Ícaro, Santos Dumont e o Ronald Golias. Fui logo perguntando: "Padre, o que deu na sua cabeça para voar içado por bexiguinhas?" .
E ele: "Meu filho, vivemos um tempo de imagens e não de palavras. E veja que imagem forte essa: um religioso impulsionado por balões, balões de fé, na verdade" .
"Mas o senhor acabou caindo!" Exclamei. "Ora, para um católico a vida terrena é só um detalhe. Outra coisa, você me viu na CNN?" Eu disse que sim. Empolgado, ele continuou: "Pois é, e no You Tube também, isso é que é merchandising de fé ."
"Mas padre Adelir", contrapus, "foi feita uma gravação em terra em que o senhor pedia uma ajuda para usar o GPS - o senhor decolou sem saber como funcionava o aparelho?" "É o que dá confiar em máquinas, melhor seria se eu tivesse levado um pé de pato."
"Olha aqui, chega de perguntas", ele prosseguiu. "Foi uma loucura mesmo: tava frio pra chuchu lá em cima; mas agora eu estou em paz, fiz o que pude em favor do pessoal que é obrigado a usar essas estradas esculhambadas no Brasil."
Admiti: "Pois é, se todos fizessem o que lhes desse na telha, haveria muito mais coisas no céu do que somente aviões de carreira, como dizia o Barão de Itararé". E o padre: "Que coincidência, ontem estive com ele".
"O Barão, é? Poxa." Então lembrei que o meu tempo no além estava acabando, um pouco mais de insistência e começaria a ficar perigoso, vai que o pessoal do outro lado se apega.
Já saindo, arrisquei uma última pergunta, gritando, quase sem vê-lo (subia a neblina). "E o que o Barão de Itararé lhe disse?" Apesar da distância, pude ouvir a resposta, ecoando no espaço infinito:
"Ele disse que tudo seria fácil se não fossem as dificuldades."
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