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sábado, 26 de abril de 2008
26 de abril de 2008
N° 15583 - Nilson Souza
Balões ao vento
A não ser que ocorra um milagre, dificilmente será encontrado com vida o padre paranaense que decolou pendurado num cacho de balões de festa, cheios de gás hélio.
A aparente loucura me lembra uma poesia do simbolista Alphonsus de Guimarães, que exemplifico com a primeira e a última estrofes: "Quando Ismália enlouqueceu,/ pôs-se na torre a sonhar.../ Viu uma lua no céu,/ viu outra lua no mar./(...) As asas que Deus lhe deu/ ruflaram de par em par.../ Sua alma subiu ao céu,/ seu corpo desceu ao mar...
Mas somente 24% das pessoas que responderam à enquete do programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, acham que o religioso agiu movido pela loucura. A maioria dos votantes (66%) cravou na palavra "irresponsabilidade".
Especialistas na arte de voar confirmam que o padre realmente desprezou algumas precauções básicas, como o manejo do equipamento que serviria para indicar sua localização às equipes de acompanhamento.
Mas ele não era marinheiro de primeira viagem: já havia, inclusive, voado do sudoeste do Paraná até a Argentina, num percurso de mais de cem quilômetros e pendurado no mesmo tipo de balões. Só que desta vez o vento soprou para o lado errado.
O curioso desta tragicômica história é que o pároco de Paranaguá teve um antecessor histórico ilustre, o também padre Bartolomeu de Gusmão, que no século 18 levantou do chão um prosaico balão de papel grosso, cheio de ar aquecido.
Na época, o engenhoso jesuíta imaginou o seu balão mágico depois de observar uma bolha de sabão flutuando numa camada de ar quente. Só que também fez as suas trapalhadas. Numa das tentativas, o balão pegou fogo e quase provocou um incêndio no palácio do rei português dom João V, seu protetor.
O padre brasileiro que inventou a Passarola - este era o nome da máquina voadora - é também personagem de um dos melhores romances do português José Saramago, O Memorial do Convento, que conta a história da construção de uma catedral em Mafra, como agradecimento do monarca a Deus por lhe ter dado um herdeiro.
Meu personagem favorito do livro é Blimunda, uma mulher com o poder extraordinário de enxergar dentro do corpo das pessoas e no interior de objetos.
Só ela mesmo seria capaz de prospectar o que se passou na cabeça do padre aventureiro quando ele resolveu assumir o risco de decolar com mau tempo e sem a garantia de que seria localizado pelo resgate em caso de acidente.
Entre os ouvintes do Polêmica, 5% acham que ele fez isso por simples aventura. Outros 5% concluíram que foi por fé.
De onde se conclui que a fé até pode mover montanhas, mas não guia balões.
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