quarta-feira, 9 de abril de 2008



09 de abril de 2008
N° 15566 - David Coimbra


As meninas de Mao

Houve uma época em que Mao Tsé-tung ficou meio impotente. Não totalmente - meio. Mas, curioso, depois dos 60 anos de idade, curou-se. Lendo sua biografia, compreendo o que aconteceu:

Mao começou a relacionar-se com jovenzinhas. Meninas chinesas mal saídas da adolescência, tenras, frescas como as manhãs que nascem sobre o Rio Amarelo, em geral pobres e ignorantes, eram requisitadas para freqüentar a cama king size do líder.

Para elas, uma honra. Tanto que convocavam as irmãs para também se refestelarem com o velho e lúbrico presidente. Não há impotência que resista a um tratamento desses.

O orgulho que as meninas sentiam por serem amantes de Mao é que espanta. Certa feita, ele contraiu tricomoníase. Normalmente, os sintomas dessa infecção não se manifestam no homem, apenas na mulher.

Sendo assim, Mao não via nenhuma necessidade de combater a doença, apesar da garantia dos médicos de que seria fácil fazê-lo. Continuou contagiando suas jovens parceiras até o fim da vida, sem nenhum drama de consciência.

Para evitar que uma endemia de tricomoníase assolasse Pequim, os médicos advertiam as meninas sobre o problema, e elas... ficavam radiantes! Saíam pela cidade a alardear que haviam contraído a tricomona do próprio Mao, como se aquilo fosse um troféu.

A biografia sobre a qual me referi, de onde colhi essa história, foi escrita pelo Doutor Li, que foi médico particular de Mao Tsé-tung durante 22 anos. Título: "A Vida Privada do Camarada Mao".

Um dos melhores relatos já escritos sobre um grande líder, desde que Plutarco teceu as suas "Vidas Comparadas", no Século 1. O livro tem quase mil páginas de detalhes da intimidade do antigo ditador comunista, como os tais das suas atividades de alcova. E acaba expondo, por tabela, muito do caráter do povo chinês.

O leitor compreende, por exemplo, que há 2.500 anos os chineses vivem sob os preceitos do confucionismo, educados para obedecer aos pais e às autoridades. Educados para venerar os superiores - é por isso que as meninas seduzidas por Mao o adoravam a ponto de se gabar de ter contraído uma doença dele.

Será que essas tradições sobreviverão à pressão do mundo exterior, que começa a se manifestar ruidosamente agora, às vésperas da Olimpíada de Pequim? Será que o cada vez maior contato dos chineses com o Ocidente conseguirá vencer esse travo milenar? Estou apostando, e torcendo, que sim.

Nenhuma salada é maravilhosa

Eu não odeio o chuchu. Gosto, inclusive. Conheço pelo menos quatro formas de se preparar ótimos pratos com chuchu. Até o mais singelo deles, salada de chuchu, minha mãe faz uma maravilhosa.

Claro: nenhuma salada é maravilhosa, nenhum chuchu pode ser maravilhoso. Muito bom, no máximo. Então, corrigindo: minha mãe faz uma salada de chuchu muito boa. O quanto uma salada pode ser boa, essa é a salada da minha mãe.

Por isso é que não entendo esse desprezo universal pelo chuchu. Até aquele candidato a presidente, o Alckmin, por ser insosso e ter cara de padre, apelidaram-no de picolé de chuchu. Sacanagem - com o chuchu. Considero o chuchu um injustiçado.

Só que há casos mais graves. Foi o que descobri graças ao meu recente interesse por economia - tenho lido muito a respeito, nos últimos meses.

Até roubei um dicionário de termos financeiros da Editoria de Economia e saí por aí me exibindo. Perguntei para vários colegas aqui da Redação o que são commodities. O pessoal vacilava, fazia hm, não sabia. Abri o dicionário no cê e mostrei para a definição. Estava escrito: "Ver: mercadoria".

Simples, caras! E eles não sabiam... Só que, indo para mercadoria, esbarrei no seguinte: "Qualquer bem, direito, obrigação ou indicador sobre o qual baseia-se um contrato futuro. Nos Estados Unidos, por questões legais, o único bem que não é considerado mercadoria ou commodity é a cebola".

A cebola! Por que esse preconceito contra a cebola??? Com cebola se faz molhos deliciosos, com cebola se faz saladas apetitosas, com cebola se faz cebola frita! Por que isso com a cebola???

Quer dizer: com a cebola, a coisa é ainda pior do que com o chuchu. É oficial! É de lei! Mas pelo menos nos ensina algo: se a cebola pode ser discriminada pelo governo americano, se o chuchu sofre com a ojeriza da população, os jogadores ruins também podem ser vaiados. É o ônus da exposição pública.

A salvação do futebol

Mais uma vez, o formulismo salvou o futebol. Fosse pela enganadora fórmula de pontos corridos, o medíocre time do Grêmio seria, talvez, campeão gaúcho.

Se o jogo de domingo não tivesse caráter decisivo, provavelmente Celso Roth não tentaria inventar e certamente os jogadores do Grêmio não se perturbariam em meio à partida. Bastou um jogo de decisão, na verdade o único tipo de jogo que interessa, para deixar expostas as fraturas de uma equipe sem estofo.

Só uma final, com todas as suas implicações psicológicas, sua tensão, suas exigências espirituais, só uma final faz de um time campeão de fato.

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