quinta-feira, 17 de abril de 2008



17 de abril de 2008
N° 15574 - Leticia Wierzchowski


Dos maus exemplos

Li uma matéria sobre o estresse das crianças que acompanham o caso da menina Isabella Nardoni, assassinada há três semanas em São Paulo. A criançada exposta ao assunto entrou em pânico e começou a questionar seus próprios pais, tentando estabelecer limites e/ou chances de que algo semelhante pudesse acontecer com elas próprias.

Evidente que uma criança, ao saber da mera possibilidade de que um pai possa jogar o próprio filho pela janela de casa, deve ficar sem parâmetros para julgar a vida.

Pais são o esteio, a força e a fonte de amor dos seus filhos - a quebra de um paradigma desses é um tremendo choque. Mas pais também são o filtro, o muro e o exemplo. Sendo assim, admiro-me de gente que permita que tal assunto faça parte do dia das suas crianças.

Mas não é o que acontece por aí, e uma coisa me deixou pasma: na saída da delegacia, quando o pai e a madrasta de Isabella foram soltos após habeas corpus, havia uma série de crianças misturadas à multidão que soltava gritos de "assassino!" e "lincha, lincha!", como se aquilo fosse uma espécie de mórbido espetáculo apto para menores.

Guardadas as proporções, tem muito pai aí dando mau exemplo para os filhos diariamente. Minúsculas situações cotidianas que vão sendo absorvidas por crianças que, num futuro próximo, tendem a repetir tais comportamentos. O trânsito, por exemplo, é palco de coisas absurdas...

Meu filho entrou pra 1ª série do ensino fundamental no Colégio Anchieta e, por conta disso, diariamente, assisto a um sem-fim de barbaridades no entorno da Avenida Nilo Peçanha. Pais apressados, com seus filhos no banco traseiro do carro, passam o sinal vermelho numa boa, dobram em ruas proibidas e atravessam a faixa de pedestres sem dó nem piedade.

E a criançada vendo tudo, o tempo todo, e assimilando. E olha que nem estou falando naquelas filas duplas que trancam todo o trânsito já tão difícil da região.

Aliás, faz tempo que uma passarela de pedestres está por sair ali nos arredores do Anchieta, e nada seria tão bem-vindo como ela - a não ser, é claro, um pouco de educação e consciência coletivas. Mas acho que isso, infelizmente, seria pedir demais.

Nenhum comentário: