ELIANE CANTANHÊDE
Toma
lá, vota cá
BRASÍLIA - Ao dizer que o ministro Luiz Fux tomou a
iniciativa de prometer absolvê-lo caso ganhasse a vaga no Supremo Tribunal
Federal, José Dirceu não deixa só Fux mal. Faz um mea-culpa, deixa outros
ministros constrangidos e lança suspeitas sobre negociações nada republicanas
do governo Dilma para nomear ministros do STF. Toma lá, vota cá?
Dirceu, claro, declarou não acreditar que a promessa de
absolvição tenha pesado para Dilma nomear Fux, mas a dedução lógica do que ele
disse --aliás, de tudo o que vem sendo dito-- é que essa negociação valeu não só
para Fux, mas para outros, desde o governo Lula. A diferença é que ele, em vez
de absolver, condenou.
Já no julgamento, quando os ministros passaram a votar
contra os réus, um atrás do outro, a ira nos bastidores do Planalto era
dirigida particularmente a Fux, acrescentada de um adjetivo: traidor.
A ira se espalhou por Brasília, até em conversas de botequim.
Veio a patética entrevista de Fux, também à Folha, admitindo sua maratona de
gabinete em gabinete para realizar o sonho de chegar ao Supremo. Agora, vem a
estratégica declaração de Dirceu, que acusa, confunde, tumultua e,
principalmente, constrange.
Juntando as peças, desde os bastidores do Planalto até o
disse que disse, passando pelo encontro de Lula com o ministro Gilmar Mendes (que
se sentiu chantageado pelo ex-presidente para votar a favor dos mensaleiros),
conclui-se que houve um movimento combinado para influir no julgamento. Ninguém
ficaria sabendo, mas Fux roeu a corda e a verdade começou a emergir da raiva.
Ao admitir que pelo menos um ministro tinha combinado o voto
antes, Dirceu deixa no ar que o Planalto agia assim e que outros ministros
podem ter entrado no jogo. Logo, Dirceu tentou melhorar as coisas para ele, mas
piorou para todo mundo. Principalmente para o governo que defende e para os
ministros que votaram para salvá-lo no Supremo.
elianec@uol.com.br
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