11
de abril de 2013 | N° 17399
ARTIGOS
-João Sabino da Cunha Filho*
Todos morremos um
pouco
Em
1978 nasce o primeiro bebê de proveta, Louise Brown, na Inglaterra. Depois de
várias tentativas e mais de uma década estudando, os cientistas Patrick Steptoe
e Robert Edwards anunciam o nascimento do primeiro bebê que foi originado em um
laboratório. A primeira fertilização in vitro com sucesso. Era o início de uma
nova era. Hoje, mais de 4 milhões de crianças no mundo inteiro já nasceram
dessa técnica.
Graças
ao trabalho de Edwards, podemos congelar óvulos, embriões, tratar pacientes que
serão submetidos a quimioterapia ou realizar diagnóstico genético antes mesmo
que o embrião seja colocado no útero.
Tenho
a honra de ser coeditor de sua revista (Reproductive BioMedicine Online) desde
2002 e de, em dezembro passado, ter participado de uma linda homenagem a ele e
sua família realizada por seus colegas em Cambridge.
Mas
Edwards, com 87 anos faleceu nesta quarta-feira, dia 10. Agrônomo de formação,
apaixonado por genética, mas acima de tudo um visionário e curioso. Sim, todo
cientista é curioso. Todos nós somos curiosos. Nossa curiosidade se inicia
quando nos comunicamos com o mundo exterior e tentamos descobrir as cores,
sabores e sons.
Questionamos,
formulamos hipóteses, concluímos. Depois, desconstruímos para novamente
questionar e formular novas hipóteses, assim todos nós funcionamos. Assim
também era Edwards, que em 2010 recebia o Prêmio Nobel de Medicina de forma
muito merecida (embora atrasada).
Seu
trabalho foi fundamental não somente como cientista, mas como humanitário que
proporcionou a um sem-número de casais experimentarem a constituição de uma
família, o que seria impossível até então.
Edwards
simboliza o uso mais puro e objetivo da conquista da ciência para todos, a
liberdade não apenas feminina, mas de toda a sociedade, que, independentemente
do modelo de família que seja adotado, pode utilizar a reprodução humana para o
bem comum.
Espero
que aprendamos com a sua simplicidade, curiosidade e generosidade a construir
uma sociedade em que ele acreditava: mais fraterna e justa. Morreu Edwards, mas
o que ele descobriu, pensava e fez nunca vai morrer.
*Médico,
especialista em reprodução humana, professor da faculdade de Medicina e da
pósgraduação da UFRGS
Nenhum comentário:
Postar um comentário