12
de abril de 2013 | N° 17400
EDITORIAIS
ZH
HOSPITAIS NA EMERGÊNCIA
O
colapso da rede hospitalar da Capital, que de alguma forma se reproduz, com as
particularidades do interior do Estado, na grande maioria das instituições do
setor de todo o Rio Grande do Sul, amplifica um alerta que já foi acionado no
país. Entidades seculares enfrentam o estrangulamento das suas emergências, e
algumas delas decidem tornar pública uma situação que envergonha seus
dirigentes e alarma a população, como ocorreu esta semana com a Santa Casa de
Misericórdia.
Sem
condições de receber pacientes, a direção do hospital divulgou uma nota na qual
recomenda aos que precisarem de atendimento de urgência que procurem outros
prestadores de serviço. É a admissão do desespero em meio ao agravamento da
tensão na recepção dos hospitais, sem quaisquer indicativos de solução, pois
todas as emergências estão superlotadas.
O
diagnóstico do mal que atormenta a Capital e o Interior é conhecido de todos,
mesmo que algumas abordagens possam divergir em relação a detalhes das causas
da crise. Sabe-se, por exemplo, que Porto Alegre há muito recebe pacientes que
poderiam ser tratados em suas cidades, se estas fossem capazes de atender até
mesmo a demanda de baixa e média complexidade.
As
deficiências nos serviços básicos acabam por transferir doentes para a Capital,
sobrecarregando não só os hospitais públicos. As dificuldades agravaram-se nas
entidades filantrópicas e, ultimamente, contaminaram os hospitais privados
gaúchos, desafiados, em apenas meia década, por um aumento de 35% na clientela
dos planos de saúde.
Tal
quadro faz com que nem mesmo os que se dispõem a pagar pela assistência têm
garantia de que serão atendidos no curto prazo por especialistas ou que
encontrarão leitos para intervenções de emergência ou para procedimentos
seletivos.
É
evidente, no entanto, que os mais penalizados são os que dependem do SUS, até
porque a baixa remuneração – a profissionais e aos serviços hospitalares –,
assegurada pelo setor público, obriga as instituições a ampliarem o atendimento
à clientela de institutos de previdência e de planos particulares. O cidadão
que não consegue pagar por um plano privado e por isso depende exclusivamente
do Sistema Único de Saúde é cada vez mais um paciente de segunda categoria.
A
proximidade do período de baixas temperaturas faz prever o que espera os
gaúchos na porta dos hospitais. Deficiências administrativas e desvios de
verbas, inclusive em hospitais públicos universitários, como os recentemente
denunciados pelo Tribunal de Contas da União em Estados do Norte e do Centro, não
são suficientes para explicar o caos, ou seremos forçados a concluir que poucos
sabem gerir a área da saúde no país.
O
cenário generalizado de desolação nas filas de espera, que se apresenta como o
maior drama brasileiro hoje, é consequência do descaso das políticas
governamentais. Saúde pública no Brasil continua sendo um tema propício a
retóricas, como as difundidas com alarido pelo atual governo federal, mas
raramente traduzidas em medidas efetivas.
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