07
de abril de 2013 | N° 17395
MARTHA
MEDEIROS
Admitir o
fracasso
Eu estava dentro do carro em frente à escola da minha
filha, aguardando a aula dela terminar. A rua é bastante congestionada no final
da manhã. Foi então que uma mulher chegou e começou a manobrar para estacionar
o seu carro numa vaga ainda livre. Reparei que seu carro era grande para o
tamanho da vaga, mas, vá saber, talvez ela fosse craque em baliza.
Tentou
entrar de ré, não conseguiu. Tentou de novo, e de novo não conseguiu. E de
novo. E de novo. Por pouco não raspou a lataria do carro da frente, e deu umas
batidinhas no de trás que eu vi. Não fazia calor, mas ela suava, passava a mão
na testa, ou seja, estava entregando a alma para tentar acomodar sua
caminhonete numa vaga que, visivelmente, não servia. Ou, se servisse, haveria
de deixá-la entalada e com muita dificuldade de sair dali depois. Pensei: como
é difícil admitir um fracasso e partir para outra.
Para
quem está de fora, é mais fácil perceber quando uma insistência vai dar em nada
– e já não estou falando apenas em estacionar carros em vagas minúsculas, mas
em situações variadas em que o “de novo, de novo, de novo” só consegue fazer
com que a pessoa perca tempo. Tudo conspira contra, mas a criatura teima na
perseguição do seu intento, pois não é do seu feitio fracassar.
Ora,
seria do feitio de quem?
Todas
as nossas iniciativas pressupõem um resultado favorável. Ninguém entra de
antemão numa fria: acreditamos que nossas atitudes serão compreendidas, que
nosso trabalho trará bom resultado, que nossos esforços serão valorizados. Só
que às vezes não são. E nem é por maldade alheia, simplesmente a gente
dimensionou mal o tamanho do desafio. Achamos que daríamos conta, e não demos.
Tentamos, e não rolou. “De novo!”, ordenamos a nós mesmos – e, ok, até vale
insistir um pouquinho.
Só
que nada. Outra vez, e nada. Até quando perseverar? No fundo, intuímos
rapidinho que algo não vai dar certo, mas é incômodo reconhecer um fracasso,
ainda mais hoje em dia, em que o sucesso anda sendo superfaturado por todo mundo.
Só eu vou me dar mal? Nada disso. De novo!
De-sis-ta.
É a melhor coisa que se pode fazer quando não se consegue encaixar um sonho em
um lugar determinado. Se nada de positivo vem desse empenho todo, reconheça:
você fez uma escolha errada. Aprender alemão talvez não seja para sua cachola.
Entrar naquela saia vai ser impossível. Seu namorado não vai deixar de ser
mulherengo, está no genoma dele. Você irá partir para a oitava tentativa de
fertilização?
Adote.
E em vez de alemão, tente aprender espanhol. Troque a saia apertada por um
vestido soltinho. Invista em alguém que enxergue a vida do seu mesmo modo, que
tenha afinidades com seu jeito de ser. Admitir um fracasso não é o fim do
mundo. É apenas a oportunidade que você se dá de estacionar seu carro numa vaga
mais fácil e que está logo ali em frente, disponível.
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