06 de abril de 2013 | N° 17394
NILSON SOUZA
Retrospectivas
Que ano! – comentei com meu tocaio Nílson Vargas, enquanto
ele se esmerava para fazer mais uma manchete para a capa de Zero Hora. Não
passa semana sem um evento extraordinário, capaz de causar perplexidade até mesmo
em jornalistas rodados como nós.
Lembramos juntos, sem esforço e desconsiderando fatos de média
importância, a tragédia de Santa Maria, a renúncia do Papa, a escolha de um
argentino humilde para o comando do Vaticano, o meteorito que atingiu a Rússia,
a arrastada desencarnação de Hugo Chávez e, agora, o assassinato em série de
taxistas no Estado. Isso em pouco mais de três meses.
– Já temos material suficiente para o caderno de
retrospectiva – retrucou meu xará, sem tirar os olhos da tela do computador.
Verdade, pensei, e emendei um outro pensamento preocupante:
o que será que nos falta acontecer nos nove meses restantes de 2013?
Fim do mundo não vale, isso tem todos os anos e nunca dá em
nada. Vida extraterrestre? Talvez. Aí tem uma possibilidade concreta, segundo
os cientistas, pois os avanços tecnológicos nos permitem cada vez mais espionar
novos mundos.
Além disso, já mandamos tanto lixo para o espaço, que daqui
a pouco é bem capaz de aparecer por aqui algum homenzinho verde para reclamar. Mudanças
significativas na ordem mundial?
Como o maior arsenal da Coreia do Norte parece ser de
bravatas, talvez num futuro mais distante. Não faltam previsões de que nas próximas
décadas poderemos ter um governo global, moeda única e no máximo três idiomas
predominantes – o óbvio inglês, o emergente mandarim e muito provavelmente o
espanhol. Vem aí mais flauta argentina.
Mas não vamos tão longe nesta retrospectiva que virou
prospecção. Gostaria de saber o que os profetas preveem para o restante deste
ano atípico que não para de nos surpreender. Li outro dia que desde 1987 não tínhamos
um ano sem números repetidos.
O que isso significa? Provavelmente nada, como diria o
Tadeu Schmidt. Mas um ano terminado em 13 deve ter lá os seus sortilégios. Já li
também que o número preferido do Zagallo representa o início e o fim de tudo, e
está associado ao mito de Sísifo, aquele personagem mitológico condenado a
empurrar uma pedra morro acima pelo resto de sua eternidade, pois ela sempre
rola de volta e ele tem que reiniciar o trabalho.
Mais ou menos como fazemos nas nossas retrospectivas jornalísticas.
A gente tem a impressão de que viveu um ano em três meses, mas a verdade é que
a pedra da imprevisibilidade sequer percorreu a metade do caminho. Força, gente!
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