sábado, 6 de abril de 2013



06 de abril de 2013 | N° 17394
PAULO SANT’ANA

Inveja do salário

Vou me incluir na relação dos invejosos, para que não aleguem que não olho para o próprio rabo.

Nesse assunto de inveja, devo confessar que tenho também o rabo preso.

Eu vi com meus olhos e ouvi com meus ouvidos (no tempo em que eles ainda escutavam) um colega meu ir pedir aumento de salário para um diretor da RBS.

Ele disse assim: “Eu ganho R$ 8 mil mensais. Peço que eu seja aumentado para R$ 13 mil mensais”.

O diretor respondeu que não podia conceder esse aumento para meu colega.

Então, meu colega retrucou ao diretor: “Está bem, não pode o senhor me conceder esse aumento. Então me conceda só um favor: pode o senhor até diminuir o meu salário, mas não me pague menos do que o senhor paga para o Fulano de Tal”.

Ou seja, em realidade, o meu colega não queria aumento, o que ele não tolerava era ganhar menos do que ganhava um outro seu colega, o Fulano de Tal.

Nós todos somos assim, invejosos. Esses dias, fui ver ao lado do box do meu edifício o box de estacionamento do meu vizinho.

E notei que, ao lado do meu carro estava o novo carro do meu vizinho, recém adquirido. E o novo carro do meu vizinho era da marca Jaguar, o sonho que sempre tive em minha vida.

Pois daí em diante passei a achar o meu carro, que tem uma marca boa e considerável, uma porcaria.

Nós somos assim, nós vivemos secando os nossos vizinhos, a casa deles é melhor do que a nossa, o carro também, a grama do jardim deles é melhor aparada e mais verde do que a nossa, e até as mulheres dos nossos vizinhos são mais bonitas do que as nossas.

O dirigente da RBS que vai ser alvo do meu relato a seguir sabe bem de que é dele que estou falando.

Acontece que umas 10 vezes reclamei para esse dirigente que não era possível acontecer o que estava acontecendo: o Falcão, ao tempo em que era colunista esportivo de Zero Hora, ganhava salário maior do que o meu. Reclamei, reclamei, reclamei, o dirigente não me deu ouvidos.

Ou seja, em realidade, eu até não queria aumento de salário, o que eu desejava é que o Falcão não ganhasse mais do que eu.

Na minha sanha desenfreada de inveja, eu chegava até a delirar: eu não queria aumento, atentem só a minha insânia, o que eu queria é que diminuíssem o salário do Falcão.

Essa é a característica básica dessa doença maligna chamada inveja.

Nos casos que contei acima, a inveja recaía sobre os salários dos outros.

Mas tem uma inveja que recai sobre a inteligência dos outros. Desse tipo de inveja, eu tenho sido frequente alvo.

Porque o salário de alguém que a gente inveja pode vir a ser rebaixado ou o salário da gente pode vir a ser aumentado.

Mas, quando a inveja recai sobre a inteligência de outrem, isso não tem conserto, a inteligência é invencível e não se a pode mudar nunca, ela vai continuar todos os dias afrontando o invejoso.

E, modéstia à parte, posso não ter maior salário do que ninguém, mas minha inteligência possui relativos e inquestionáveis méritos.

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