04
de abril de 2013 | N° 17392
EDITORIAIS
ZH
O Colapso das
Finanças
Ao
lançar mão dos depósitos judiciais para pagar suas contas, o governo do Estado
renova o atestado de falência da gestão financeira do setor público gaúcho,
avalizado por sucessivas administrações. São muitos os argumentos utilizados
pelo Executivo para recorrer a um procedimento com suporte legal, mas
precariamente sustentado quando confrontado com as práticas da boa
administração.
Depósitos
judiciais são recursos à espera de um veredicto, não pertencendo, por
antecipação, a nenhuma das partes envolvidas. O que o Piratini faz é
apropriar-se, mesmo que temporariamente, de verbas que não lhe pertencem,
sempre sob a desculpa, já utilizada em governos anteriores, de que enfrenta uma
situação emergencial.
Desacertos
mantidos por décadas, com breves interrupções, desautorizam os defensores da
tese de que a falta de dinheiro é um arrocho transitório, provocado por
circunstâncias anormais, como a queda na arrecadação em decorrência de uma
seca, por exemplo.
A
urgência só existe porque o desencontro entre receita e despesa nunca foi
combatido pelo Estado como questão estrutural, apesar dos inúmeros estudos
realizados nesse sentido. Na origem do descompasso, está o inchaço estatal, a
defasagem dos métodos de administração e o distanciamento do setor público da
economia real.
O
Estado, no Rio Grande do Sul, configurou-se há muito tempo como um ente alheio
às lições das atividades privadas. É assim que as deficiências gerenciais
acabam por punir, com os altos custos de manutenção do governo, toda a
sociedade. Custeia-se o funcionamento de uma máquina pública incapaz de levar
adiante promessas de investimentos e de manter um nível razoável de qualidade
nas áreas básicas da educação, saúde e segurança.
Socorrendo-se
de depósitos judiciais, o Piratini submete-se a um constrangimento que vem
ajudando a ampliar, ao conceder reajustes salariais fartos a algumas categorias
e ao ignorar a necessidade de racionalizar despesas de custeio.
Reconheça-se
que o Executivo também vem sendo boicotado em algumas das medidas saneadoras
que tentou instituir, como o aumento da alíquota da contribuição
previdenciária. Sem mudanças no modelo de gestão e sem a solidariedade dos
demais poderes, a administração continuará recorrendo a recursos que não são
seus, não como atitude pontual, mas como prática incorporada às suas rotinas.
No
mesmo dia em que se anunciou que o governo avançava mais uma vez nos depósitos,
o próprio Executivo assistiu, impotente, ao reajuste de subsídios do Judiciá-
rio, do Ministério Público, da Defensoria Pública e do Tribunal de Contas, por
vinculações legais com a esfera federal.
Quando
se sabe que o Rio Grande do Sul é incapaz de assegurar o piso nacional ao
magistério, causa perplexidade que algumas categorias detenham prerrogativas
tão diferenciadas. São privilégios que, mesmo sustentados pela legislação, mas
agregados à ineficiência e à omissão, ajudam a explicar por que o Estado só se
mantém com a ajuda de um dinheiro que não é seu.
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