Jaime
Cimenti
José Castelo navega nos mares
inquietos da prosa e do verso
De
uns anos para cá, muita gente anda reclamando que não há mais crítica literária
no Brasil, que as coberturas dos lançamentos dos livros estão mais centradas em
informações, resenhas, que falta opinião e tal. Em parte a queixa procede, mas
para quem gosta de crítica, da boa, está aí a coletânea Sábados inquietos do
jornalista e escritor carioca radicado em Curitiba José Castello, publicada
pela Leya.
O
volume reúne as 100 melhores crônicas de Castello, selecionadas a partir das 250
que publicou no suplemento Prosa de O Globo, aos sábados, desde 2007 até 2012. Um
trabalho delicioso e surpreendente, que o autor descreve como “aventuras que
narram suas peripécias através dos mares inquietos e turbulentos da poesia e da
ficção”.
Os
exercícios de crítica literária de Castello perpassam autores como Machado de
Assis, Lewis Carroll, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes,
Kafka, Borges, Beckett, Coetzee, Rulfo, Umberto Eco, Tolstoi e muitos outros. O
que dá uma certa unidade aos textos é o fato de eles partirem, quase sempre, de
uma perspectiva íntima, falando sobre o que tocou mais diretamente o autor em
cada obra analisada.
As
crônicas induzem o leitor a uma verdadeira viagem no mundo das emoções, um
mundo quase surreal. “Sofro dos livros que leio e acredito que, na maior parte
das vezes, eles, sim, me leem, me afetam e me modificam. Não posso negar que
eles sempre me inquietam. Através da leitura, faço longas e inesquecíveis
viagens ficcionais.
Digamos,
portanto, que é um livro de viagens. Uma coletânea de aventuras que narram
minhas peripécias através dos mares inquietos e turbulentos da poesia e da ficção.
Assim o vejo, e assim gostaria que o lessem”, escreveu José Castello na introdução.
Sobre Vinicius de Moraes, disse Castello: “Nunca se sabe onde Vinicius está”. Os
tradicionalistas apreciam seus sonetos, mas lamentam suas incursões pela leveza
do contemporâneo.
Os
vanguardistas se irritam porque Vinicius não sofria da compulsão ao novo - o “make
it new” - de Ezra Pound, que, na verdade, fez da ruptura uma nova tradição. Os
intelectuais de gabinete se indispõem com as aventuras de Vinicius pelos becos
da realidade e com sua insistência em “poetizar o mundo” - enquanto João
Cabral, seu antípoda, num gesto oposto, pretendia “despoetizar a poesia”.
Drummond
foi mais sábio ao entender que, de todos eles, Vinicius foi o único que
conseguiu recriar uma conexão, há muito perdida, entre poesia e vida. É isso.
Jaime
Cimenti
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