08
de abril de 2013 | N° 17396
L. F.
VERISSIMO
Maluquices
O
filme Borat era um pseudodocumentário mostrando a ida de um maluco do Cazaquistão
aos Estados Unidos para fazer uma reportagem sobre a vida americana. O
personagem Borat era fictício, mas todas as pessoas com quem ele interagia e,
muitas vezes, escandalizava, na América, eram reais.
Quem
se lembra do filme lembra que o único lugar em que ninguém estranha ou repele a
maluquice de Borat é a assembleia de uma igreja pentecostal, onde estão em
curso exorcismos de grupo e curas pelo toque de mãos, e fiéis pulam e correm de
um lado para o outro para se livrar dos maus espíritos – porque lá a maluquice
de Borat não destoa da maluquice ambiente. Borat finalmente encontra uma
loucura igual à sua. Ou maior, porque não é simulada.
O
anarquista Borat teria que se esforçar para igualar, em matéria de
irracionalidade e desafios ao bom senso as crenças e os ritos de qualquer
religião, não apenas das pentecostais. É curioso como as pessoas condenam o
lamentável Marco Feliciano por coisas como a sua interpretação literal da Bíblia
e sua evocação de Satanás, mas não estendem a crítica a outros, de outras
religiões, que têm a mesma adesão aos dogmas da sua igreja que o lamentável tem
aos da sua.
Um
católico convicto e praticante também deve suspender conscientemente a razão
para aceitar os princípios metafísicos da sua religião, e também acreditar na Bíblia
como verdade absoluta e na ação de Satanás no mundo.
Eu
sei, eu sei. A grita é contra o fato do Feliciano, com todos os seus
preconceitos e fobias, acabar presidindo uma comissão de direitos humanos. Mas
aí não estamos mais tratando dos mistérios da fé, e sim dos mistérios do
processo legislativo. Ninguém me perguntou, mas apoio qualquer movimento e
assino qualquer manifesto contra o obscurantismo e o sono da razão, desde que a
maluquice condenada seja a de todas as religiões, e de todos os seus deuses e
demônios.
No
filme, os pastores da tal igreja pentecostal tratam a loucura de Borat como uma
manifestação de Satanás, e têm os passes e as palavras prontos para curá-lo. Depois,
o Borat – ainda mais louco do que antes, mas quem está ligando? – se abandona à
convulsão geral, e também sai pulando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário