08
de abril de 2013 | N° 17396
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Infância querida
Associar
Casimiro de Abreu à poesia é algo que as crianças brasileiras estão – ou
estavam – acostumadas. Frequente nas comemorações escolares, Meus Oito Anos era
sabido de cor, embora nem sempre entendido em toda dimensão, pois só pode
evocar a “aurora da minha vida” quem já vive na força da idade. Alguns, apenas
no declínio. Outros, nunca.
Poucos
sabem, ou imaginam, que Casimiro escreveu prosa. Sim, escreveu, e merece ser
lida, nem que seja para conhecer o “outro lado” do poeta. A propósito, há um
livro recém-saído: Casimiro de Abreu – Narrativas, com edição, apresentação e
notas da professora Maria Eunice Moreira, da PUCRS, com o selo do CLEPUL, de
Lisboa.
O
volume é uma dedicada recolha de três pequenas novelas, publicadas aqui e ali,
ao sabor das mutações geográficas do poeta. A tarefa a que se impôs a estudiosa
é tremenda. Só o trabalho de fixação de texto é, por si só, uma proeza, tal a
anarquia ortográfica e sintática que apresentava – no que o escritor não estava
sozinho entre seus pares.
O
que nos contam, essas narrativas? Antes de tudo, variações sobre amores
contrariados, tuberculose e morte, no que não traz novidades em relação às
produções do grupo romântico. Precisamos, agora, de um esforço interpretativo
novo, que buscará, na raiz, o que existe de original nessas obras de Casimiro. Seria
como tentar ouvir o Love me Tender, de Elvis, como se fosse pela primeira vez.
O
leitor verá Meus Oito Anos reaparecer, transfigurado em prosa em A Virgem
Loira, no momento em que o narrador faz uma saborosa observação, ao estilo que
consagraria Machado de Assis em sua fase realista: “Ah! Meus oito anos! Quem me
dera tornar a tê-los!...
Mas...
nada, não queria, não; aos oito anos ia eu para a escola, e confesso
francamente que a palmatória não me deixou grandes saudades.” Se na poesia
aparece o Casimiro lírico, na prosa a conversa muda de figura, o que nos
permitiria uma interessante reflexão sobre a pertinência dos estilos quando
conectados aos gêneros literários.
É possível
que o mesmo leitor, a partir de agora, lembre-se do famigerado poema com outra
perspectiva, talvez mais crítica quanto ao conteúdo, o que dará inesperada
faceta a seu autor; talvez Casimiro não fosse tão romântico quanto os compêndios
insinuam.
Mas
essas infidelidades sempre acontecem com os bons autores.
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