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terça-feira, 1 de junho de 2010
ELIANE CANTANHÊDE
Marcha da insensatez
BRASÍLIA - O relatório da AIEA (a agência de energia atômica) mostra que há muito mais urânio enriquecido no Irã do que a vã filosofia de Ahmadinejad admite e do que os 1.200 kg que ele se dispõe a transferir para a Turquia.
E, em meio à crise de confiança geral, vem agora Israel com um ato insano, que atinge um único objetivo: jogar o mundo inteiro contra ele próprio, talvez com a exceção do amigão EUA.
Não bastasse Israel ter a bomba atômica e partir para a ofensiva contra o Iraque, a Síria, o Líbano, mulheres e crianças palestinas, o país agora ataca navios com militantes pacifistas e ajuda humanitária para a população civil de Gaza.
São militantes de diferentes nacionalidades, com reações indignadas em vários pontos do planeta, plantando uma dúvida no ar: será que o Irã não tem o direito de enriquecer urânio e assim se precaver contra radicais israelenses? É como se um justificasse as ameaças do outro, um estimulasse as loucuras do outro. E a região que se exploda.
O ataque aos navios e a contagem de mortos tira o foco do Irã e joga sobre Israel, deixando Washington e as demais potências sob fogo cruzado e sem discurso para impor sanções contra o regime iraniano, pelo menos neste momento.
Se Israel tem a bomba e o Irã não, se Israel ataca pacifistas estrangeiros e o Irã não, se Israel não ouve ninguém para decidir atos assim e o Irã pelo menos tenta um acordo, como é que Barack Obama e as potências vão demonizar um e ignorar o outro?
Metido até a raiz dos cabelos na crise, o Brasil condenou duramente a agressão aos navios e cobrou indiretamente uma reação à altura do governo Obama. Mas, a esta altura, o que parece é que estão todos mudos, cegos e surdos.
Ninguém ouve mais ninguém. O que significa que a razão anda escanteada e que as emoções estão à flor da pele. Emoções, como sabemos, são péssimas conselheiras em política externa e em posicionamentos estratégicos.
elianec@uol.com.br
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