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terça-feira, 8 de junho de 2010
08 de junho de 2010 | N° 16360
PAULO SANT’ANA
Um apelo insistente
Esta não é uma coluna de cartas. Mas são milhares de pessoas que me escrevem querendo que eu publique o que lhes aflige. Impossível, mas, para emblematizar essa ânsia, por vezes cedo.
Espero que os leitores que me escrevem entendam isso, não dá para publicar suas mensagens.
Vez por outra, escolho uma carta e a transcrevo. Mas fico chateado por não poder dar voz a todos.
Este e-mail que vou publicar me comoveu pela insistência, foram quatro vezes que aconteceu o pedido. E o alvo da reivindicação é uma deficiente física:
“Sr. Paulo Sant’Ana. Gostaria que este meu desabafo fosse publicado na sua coluna, a qual leio diariamente.
Moro em Capão da Canoa há muitos anos, sou aposentado do Banrisul, onde atuei por 33 anos e, nos últimos anos atuando pelo banco, fui sequestrado juntamente com minha família por três vezes, sendo duas vezes em Capão da Canoa e uma delas na cidade de Osório.
Nesses sequestros, minha filha Rafaela, que é deficiente física, esteve presente em todos, sendo que no último o carro em que ela estava foi alvejado por dois tiros, quando os bandidos estavam fugindo da polícia, tudo isso foi descrito por Zero Hora.
Minha filha, não se sentindo bem em Capão da Canoa, uma vez que os assaltantes de banco ficaram muito tempo em nossa casa, fazendo com que a mesma adquirisse síndrome de pânico, mudou-se para São Leopoldo, onde cursa Psicologia na Unisinos e trabalha na mesma faculdade.
Ocorre que, tão logo a mesma mudou-se, sempre acostumada em casa, sendo amada por seus pais, levou sua cachorrinha pinscher, bem velhinha, e um outro cachorrinho pequeno para lhe fazerem companhia.
No edifício em que mora, em apartamento alugado, muitos possuem diversos cachorros, inclusive a síndica, mas resolveram que ela deveria se desfazer dos animais, a ponto de que foi decidido que ou ela ficava sem os cachorros, ou então saía.
Trabalhando em uma farmácia no centro de São Leopoldo, era chamada por um número, aquele usado para identificar o deficiente físico. Graças a sua disposição em melhorar na vida, conseguiu arrumar um trabalho na Unisinos, onde é tratada, como ela diz, de maneira digna e está desempenhando seu trabalho de forma normal, apesar de não possuir o antebraço esquerdo, no entanto digita com bastante habilidade.
Agora, foi tentar tirar a carteira de motorista em São Leopoldo, e foi dito a ela que não era possível, uma vez que não possui carro adaptado para as aulas práticas. Pesquisou pelas proximidades e encontrou em Canoas, porém, lhe foi dito em São Leopoldo que não é possível fazer as aulas teóricas em São Leopoldo e as práticas em Canoas.
Moral da história: já que ela não pode faltar ao trabalho, até porque iniciou recentemente, não poderá tirar a carteira de motorista, e o trabalho para uma deficiente física é importantíssimo, até para sua autoestima. E ela tem orgulho de trabalhar na Unisinos, que tão bem a acolheu.
Eu tenho certeza que o senhor, com sua capacidade de entender as agruras da vida, vai se tocar com a forma cruel como tratam minha filha e sensibilizar as autoridades de trânsito de São Leopoldo para que resolvam o impasse e providenciem um carro adaptado para minha filha fazer as aulas práticas em São Leopoldo e, logicamente, as aulas teóricas, pois somente assim ela poderia continuar trabalhando normalmente.
Conforme contato mantido por e-mail com o Detran, pediram a ela um requerimento, mas não é isso que ela quer, o que ela quer é um tratamento igual para todos, pois com certeza ela não é a única pessoa deficiente física da cidade de São Leopoldo. Agradeço sua atenção, (as.) Aidyl Santos Peruchi (ape-ruchi@hotmail.com), endereço: Honório Ferreira da Silva, 614, Capão da Canoa, fone (51) 9983-1625”.
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