segunda-feira, 14 de junho de 2010



14 de junho de 2010 | N° 16366
DAVID COIMBRA


A última moda na prancheta

A Copa do Mundo é como a Semana da Moda em Paris: apresenta tendências. Só que, em vez de mostrar ao Ocidente atônito que as mulheres vão passar a usar calças sem fundilhos, a Copa aponta aos técnicos que esquema devem adotar em seus times a partir do meio de julho.

No caso da Copa da África, o “must” é o chamado “duas linhas de quatro”.Os técnicos considerados mais modernos o estão empregando com rigor dogmático.

Dois dos mais ilustres: Carlos Alberto Parreira, da África do Sul, e Fabio Capello. Da Inglaterra.

O time de Parreira está bem ensaiado nesse esquema. Protege-se com a solidez do Monte Kilimanjaro nas tais “duas linhas” e, ao deslizar para o ataque, um dos meias se desprende para juntar-se aos dois atacantes.

Uma coincidência: o jogador mais habilidoso da África do Sul, o camisa 10 Steven Pienaar, tem o mesmo sobrenome do capitão do time de rúgbi que venceu a Copa do Mundo quando Mandela era presidente, em 1995. O outro Pienaar era François e, no filme Invictus, foi interpretado por Matt Damon, o eterno Jason Bourne.

No English Team o “duas linhas” tem mais mobilidade, porque Capello tem mais possibilidades. Que ninguém se iluda com a estreia vacilante dos britânicos em Rustenburg: a Inglaterra é uma equipe poderosa e possui jogadores de qualidade em todos os setores. Na “primeira linha”, o experiente John Terry, que completará 30 anos em dezembro. Na segunda, aqueles que talvez sejam os melhores volantes do mundo: Lampard e Gerrard. Na frente, Rooney.

O time de Capello joga como uma gaita-ponto: fecha-se quando se defende, abre-se quando ataca. Há um jogador de ilustre família inglesa, Lennon, que joga por música nesse sistema. Sempre que o English Team recupera a bola, ele corre para a linha lateral direita. E é aí que ele assume sua verdadeira personalidade.

Trata-se do célebre pontinha chato. A pequena estatura, 1m65cm, concentra-lhe as energias, faz dele um ser elétrico, inquieto e, o mais terrível, veloz como o guepardo das savanas africanas. De posse da bola, Lennon invariavelmente investe contra o defensor, vai à linha de fundo e cruza para trás. A zaga inimiga vira uma manada de gnus atacada por um bando de leopardos.

Com jogadores de tal versatilidade, o “duas linhas de quatro” funciona com naturalidade no English Team e com eficiência na seleção dona da casa. Veja como ele vai funcionar no seu time, em breve, assim que a Jabulani parar de rolar nos campos da África.

A brabeza cada vez mais braba de Dunga

Dunga ficou zangado ontem.

Também ficou anteontem.

E antes disso mais ainda.

Mas o resultado de toda essa zanga deu-se, mesmo mesmo, ontem: o treino da noite devia ser aberto à imprensa, e Dunga o fechou. Uma forma de punição aos jornalistas rebeldes. É que, no começo da semana, alguns repórteres avistaram o goleiro Julio César lá longe, a um quilômetro de distância, caminhando meio que claudicante sobre o gramado de tapete do campo de golfe do Randburg Club. Não bastasse o passo vacilante, Julio César ainda se movia com a mão pressionando os flancos e o rosto num ricto de dor. Concluíram, os repórteres, que ele continuava sentindo os efeitos da lombalgia que o havia tirado do amistoso contra a Tanzânia e que, dessa forma, poderia não jogar na estreia na Copa.

O pessoal dos sites e das rádios, na premência da notícia ao vivo, correu cada qual para o seu veículo, e a informação foi repassada em estado bruto, até porque não havia ninguém da Seleção para confirmá-la ou desmenti-la. À tarde, porém, Julio César participou do chamado “treino alemão”. E saltou atrás da bola como um cabrito montês e esticou-se todo nos alongamentos. Mostrou que está em forma. E que vai jogar.

Então Dunga ficou brabo.

Resultado: às 19h de ontem, a Seleção Brasileira homiziou-se em um campo nos fundos da Randburg High School, deixando o resto do mundo do lado de fora. Os que mais sofreram foram os repórteres de TV, sem imagens para ilustrar suas matérias. O jeito foi improvisar. Os cinegrafistas convocaram oito torcedores, pediram o reforço de mais dois sul-africanos que passavam por ali, reuniram-nos todos e os fizeram se amontoar na grade da High School. Obedientes, os torcedores punham-se na ponta dos pés, esticavam os pescoços e gritavam pelo Brasil, Brasil, Brasil!

A brabeza de Dunga incentiva a criatividade da imprensa.

Uma escalação sem surpresa alguma

Os repórteres brasileiros se esforçaram pungentemente para descobrir o que Dunga tanto escondia em seu treino secreto.

Conseguiram.

Alguns se posicionaram em pontos mais altos das ruas nas cercanias da High School e lograram divisar quais jogadores ganharam os coletes laranja do time titular. São os mesmos que vêm jogando, a provável escalação para a estreia contra a Coreia do Norte:

Julio César; Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Felipe Mello, Gilberto Silva, Elano e Kaká; Robinho e Luís Fabiano.

Lógica incontestável

Quando um repórter brasileiro pediu que o volante Ramires contasse ao mundo o que se passara no treino secreto do dia anterior, o jogador deu uma quebrada de ombros e revelou uma lógica precisa como um chute de Lukas Podolski:

– Se fosse para falar, seria treino aberto...

Entrevista em inglês, nem pensar

Quando um repórter estrangeiro deitou falação em inglês para fazer uma pergunta ao lateral Maicon, durante a coletiva de ontem, o jogador do Brasil se empinou todo.

– Inglês não dá! – protestou o lateral, algo desconcertado, para em seguida usar uma gíria muito em voga entre a boleirada do Brasil:

– Inglês joga areia...

CAMPEÕES DE ELEGÂNCIA

Desci à Zona Mista de entrevistas de Inglaterra versus EUA, neste fim de semana, e constatei: o English Team é deveras elegante.

No vestir, digo.

Cada um dos boleiros súditos da rainha saiu do vestiário trajando um discreto e bem cortado terno cinza, com camisa igualmente cinza, só que mais clara, gravata fina, porém não muito, e sapatos pretos, lustrosos a rebrilhar. Todos estavam com os paletós fechados, exceto pelo último botão, como prezam as normas da distinção que aprendi com dona Célia Ribeiro, que, espero, me lê aí do outro lado do Mar Tenebroso.

Os jogadores americanos, que passaram pelo mesmo local, vestiam um vulgar agasalho azul-escuro com detalhes em vermelho e, claro, tênis.

Torci o nariz para eles.

Desaprovei apenas um detalhe do uniforme inglês: sob o braço, os jogadores carregavam uma leva-tudo preta do tamanho de uma caixa de sapatos. Demodê.

Só um jogador não carregava a destoante leva-tudo. Quem? Quem?

Beckham (foto), é evidente. Suponho que Victoria não tenha permitido.

APESAR DO FRANGAÇO

Havia certo entusiasmo dos ingleses na saída do jogo contra os Estados Unidos, apesar do empate e do frango cantante engolido pelo goleiro Green, que na Velha Álbion já está sendo chamado pelos jornais de “Calamity Green”.

O entusiasmo se deve ao prognóstico que fazem os britânicos. Calculam que só terão adversários fracos pela frente, o que lhes proporcionará caminho desimpedido até a semifinal.

brasilnaafrica.com.br

Saiba mais sobre o que David anda vendo lá na África no Blog do David: www.brasilnaafrica.com.br/blogdodavid

Nenhum comentário: