segunda-feira, 28 de junho de 2010



28 de junho de 2010 | N° 16380
PAULO SANT’ANA


O olho eletrônico

Não se pode afirmar que, caso o árbitro tivesse assinalado o gol legítimo da Inglaterra, na bola que ultrapassou a linha fatal, ainda assim a Alemanha ganharia de goleada.

Não se pode afirmar que, se o juiz tivesse visto o gol, outra seria a emocionalidade e a intensidade volitiva dos dois times.

Eu poderia argumentar que, com o gol, anulado, a Inglaterra desanimou e deu chance para a Alemanha goleá-la.

Há anos prego ao deserto no Sala de Redação: insisto desde 2001 que a Fifa tem de determinar uma mudança na norma, permitindo que o olho eletrônico decida os lances polêmicos, cruciais, decisivos de uma partida, quando o olho humano não conseguir discernir a verdade.

Bastava que o árbitro paralisasse a partida, dirigindo-se à lateral do campo, onde um aparelho de televisão seria acionado e ele poderia consultá-lo sobre o lance discutido, decidindo assim e então com justiça.

O que não pode é uma partida de futebol decidir-se por um erro do árbitro, muitas vezes, mais que um erro, um lance em que o árbitro e o bandeira não possuem aparelho cognitivo que esclareça a jogada.

Por que então não usar o olho eletrônico que já é usado por vários esportes, entre eles o turfe, a natação, as corridas atléticas e o próprio tênis?

Só o futebol não cedeu a essa ânsia de justiça e correção, só o futebol incorre no erro de permitir que a realidade de um lance decisivo seja torcida por erro ou incapacidade de leitura da arbitragem.

Outro lance que teria de ser decidido pelo olho mecânico: o primeiro gol da Argentina contra o México, ontem, quando Tevez estava visivelmente impedido ao fazer o gol.

Como podem permitir tamanha iniquidade? Estava empatada a partida em zero a zero, decidindo uma etapa da Copa do Mundo, talvez o próprio resultado final da Copa, quando o juiz validou um gol ilegítimo da Argentina: nada pode ter influído mais no resultado que aquele gol ilegal!

O mais alarmante de tudo é que, no gol ilegítimo de Tevez, o árbitro correu até a lateral do campo para consultar o bandeirinha. Ou seja, o árbitro estava em dúvida. E o bandeirinha validou o gol escandaloso.

Nesta hora é que eu digo que o árbitro não tem de consultar o bandeirinha, e sim uma televisão. Para que sejam sanadas todas as dúvidas e as grandes injustiças sejam banidas do futebol.

Que coisa escandalosa! Todo o estádio viu que a bola do gol inglês não validado passou a linha fatal, foi o que disseram os jornalistas que estavam lá! Só não viram duas pessoas, o árbitro e o bandeirinha.

E o gol não foi concedido à Inglaterra, mexendo totalmente na voltagem emocional do jogo e até presumivelmente no resultado.

Há anos prego no Sala de Redação que o futebol extinga as injustiças, consultando o recurso eletrônico nos lances de grande dúvida e importância.

Um dia esta medida será tomada, mas até lá vão se somar as injustiças e os escândalos. Por insensibilidade da Fifa, que teima em não moralizar o futebol.

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