sábado, 12 de junho de 2010



13 de junho de 2010 | N° 16365
L. F. VERISSIMO


O tempo do telex

Quando quero impressionar alguém com a minha veteranice em matéria de Copa do Mundo (esta é a minha sétima), não digo que sou do tempo da seleção com Zico e Falcão de 86, ou a do Lazaroni de 90. Digo que sou do tempo do telex. O futebol mudou bastante desde então, mas nada mudou tanto quanto os instrumentos para cobrir uma copa.

O telex era uma máquina de escrever infernal na qual se picotava uma fita, que depois passava por outra máquina, que a transmitia. Lembro que na Copa de 90, na Itália, nem telex eu tinha à mão. Datilografava as matérias e depois as levava para o centro de imprensa, de onde elas eram mandadas ao jornal por fax. Hoje, claro, até o fax, aquela coisa milagrosa, é relíquia pré-histórica.

Hoje você digita sua matéria no próprio estádio, se quiser, e a manda com um único toque no teclado. Com o dedo mindinho, se preferir.

Quanto às mudanças no futebol, não foram tão radicais. Algumas coisas que se discutiam em 86, por exemplo, continuam sendo discutidas agora, talvez com outro vocabulário. O “cabeça de área” execrado ganhou o nome mais elegante de “volante de contenção”, mas futebol mais ou menos defensivo, mais ou menos gente no meio do campo, mais arte e menos força ou mais força e menos arte, ainda dividem opiniões do mesmo jeito.

Uma diferença grande entre a Seleção Brasileira de 86 – escolhida aqui só porque foi a primeira que vi ao vivo numa Copa – e a de hoje é que então eram poucos os jogadores que atuavam no Exterior. Hoje a maioria joga fora do país. A internacionalização do futebol foi um dos fenômenos que cresceram desde o tempo do telex e do cabeça de área.

As seleções atuais podem mesmo – simplificando-se um pouco – serem divididas entre importadoras e exportadoras, aquelas cujos jogadores jogam quase todos no seu próprio país, como a italiana, a alemã e a inglesa, e aquelas cujos jogadores precisam ser repatriados para formar um time. Não tenho a menor ideia de como isso influi nas suas atuações em Copas. Importadoras e exportadoras têm tido resultados parecidos.

Do que mais eu me lembro da minha primeira Copa, no México? O jogo Brasil e França que perdemos nos pênaltis, um dos melhores que já vi. E as dores de barriga. Tinham nos avisado que comer a comida mexicana era um perigo. Não era verdade. Respirar, no México, era um perigo. Tive as primeiras cólicas descendo do avião.

As seleções de hoje podem ser divididas entre importadoras e exportadoras de craques

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