quarta-feira, 23 de junho de 2010



23 de junho de 2010 | N° 16375
DAVID COIMBRA


Nigerianos? Tome muito cuidado

Se um nigeriano chamá-lo assim:

– Eh, buda!

Saia correndo.

Esse “buda” para os nigerianos, na verdade, é brother. Mas, no inglês com sotaque nigeriano, sai assim:

– Eh, buda, come here...

Não vá, não vá. O nigeriano está com péssimas intenções a seu respeito. Talvez ele queira até mesmo... abusar de você.

Lembre-se que os estupros são um flagelo da África do Sul. Há uma média de 55 mil estupros por ano, fora os que não são registrados. Muitas vezes, uma moça é sequestrada e levada para uma casa na periferia. Passa o fim de semana confinada, sendo usada por seis, sete homens. Depois de dois ou três dias, eles a matam. Ou a deixam infectada com HIV, o que, na África, é quase a mesma coisa que assassiná-la.

O meu amigo Sérgio Rangel, da Folha, ficou doente aqui em Jo’burg e foi levado a um hospital privado. Espantou-se com a modernidade do lugar. Para medir a febre, meteram-lhe a ponta de uma pistola na orelha, apertaram um gatilho, clec, e:

– Trinta e sete e meio.

Mas outros colegas que também adoeceram foram para hospitais públicos e saíram deles igualmente espantados com o que viram: moribundos atirados pelos corredores, os rostos encovados tipo o Cazuza no fim da vida. Vítimas da aids.

A aids é outro flagelo da África do Sul, e não só da África do Sul: de todo o continente. Em lugares como o Zimbábue, 40% da população adulta estaria contaminada pelo HIV. Na África do Sul, 20%. Supõe-se que entre as profissionais do sexo esse índice chegue perto de 100%. Pudera: os africanos relutam em aceitar o uso de camisinha.

O presidente que sucedeu a Nelson Mandela, Thabo Mbeki, achava que, se o homem se lavasse depois do sexo e comesse beterraba, não seria contaminado pelo vírus da aids. Lavar-se tem lógica: limpeza e talicoisa. Mas beterraba? Por que a beterraba?

Enfim.

Os zulus, por exemplo, conhecidos como guerreiros desassombrados, passaram anos acreditando que temer a aids era coisa de afeminado. Um povo bravo não ia se submeter a colocar aquela afrescalhada proteção de plástico.

As prostitutas, sabendo que os africanos não gostam de usar camisinha, cobram um preço para trabalhar com e outro para trabalhar sem preservativo. Preço baixo, ressalte-se. Jo’burg é uma cidade grande.

De uma ponta a outra, estende-se por inacreditáveis 100 quilômetros. Em meio a essa área há de tudo. Aqui e ali, se visitar os escaninhos certos, o homem necessitado pode conseguir uma prostituta que o alivie por 30 rands. Aproximadamente R$ 8. Um chope e meio ali no bar do meu amigo Atílio.

Nestes lugares sombrios, onde as prostitutas do bas-fond fazem o trottoir, zanzam os nigerianos. Passei por alguns desses locais. São certas esquinas do Downtown, certos nichos do Soweto. De dentro do carro, reconheci os nigerianos. É fácil identificá-los. Usam compridos sapatos de bico fino, feitos de couro de crocodilo. Usam argolas de ouro nas orelhas. Usam colares sobrepostos no pescoço. Caminham indolentemente, como quem se sabe dono do seu pedaço de mundo. Eles param, equilibrando o peso do corpo em um só pé. Eles olham para você. Chamam:

– Eh, buda...

Os africanos têm fama em todo o mundo de serem bem-dotados , certo?

Certo.

Pois os africanos dos africanos são os nigerianos. Quando um africano quer dizer que um homem dispõe de avantajado instrumento sexual, ele fala que o dito cujo deve ser um nigeriano.

Mas não é só por isso que os sul-africanos temem os nigerianos. São eles, os nigerianos, os principais chefes do tráfico de drogas e das gangues que atormentam Jo’burg.

Especialistas em segurança calculam que cada sul-africano será assaltado três vezes na vida, em média. Assaltos à mão armada, roubos, fora os furtos. Muitos deles praticados por nigerianos. Donde aquela revolta dos sul-africanos, meses atrás, contra nigerianos e outros estrangeiros. Era uma revolta por postos de trabalho, sim, mas também por segurança, também por medo. Os sul-africanos, que por tanto tempo sofreram com a discriminação, de certa forma, discriminam.

O mundo dá voltas, realmente. E nem sempre para o lado certo.

Melhor seria não classificar ninguém. Não rotular. Mas, de qualquer maneira, se um nigeriano me chamar:

– Eh, buda!

Tchau mesmo.

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