Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
07 de junho de 2010 | N° 16359
L. F. VERISSIMO
Bola e corneta
Joanesburgo – Seus habitantes têm um nome carinhoso para Joanesburgo: Josi. É difícil imaginar um lugar que inspire menos ternura do que esta coleção de centros interligados por vias expressas – várias aldeias à procura de uma cidade, como já disseram de Los Angeles.
Passa-se de uma favela horizontal paulista para um moderno subúrbio americano em poucos minutos, ou em poucos metros de estrada. “Josi” deve ser uma maneira de reduzir este contraste violento a algo mais amável e de integrar a dispersão ao menos numa palavra. E, afinal, o contraste não é novidade para quem mora em grandes centros brasileiros, onde também se vai da miséria a Miami em instantes.
Enquanto não começam os jogos para valer, tudo é assunto. E os assuntos dominantes são a bola da Copa, de que ninguém gosta, e as vuvuzelas, as cornetas de plástico da torcida sul-africana, que certamente serão responsáveis por algumas crises de nervos e internações antes que a Copa acabe.
Imagine visitar uma casa em que as crianças não param de tocar cornetas no seu ouvido – e os pais incentivam! Na África do Sul, as vuvuzelas não só são toleradas como foram transformadas numa espécie de símbolo do entusiasmo nacional pelo time da casa.
As outras torcidas adotarão a vuvuzela, nem que seja por simpatia por um costume local, e o resultado é que assistiremos a todos os jogos em meio a um vespeiro infernal. Nos filhos dos amigos se pode dar um cascudo corretivo, quando os pais não estiverem olhando.
Aqui, temos que encarar as cornetas como interessantes exemplos da cultura nativa. Estou seriamente pensando em usar tapa-ouvidos, com todo o respeito.
Quanto à bola, ela está sendo mais falada do que a mulher número dois do presidente sul-africano Jacob Zuma, cuja infidelidade (com um guarda-costas) era a manchete principal do jornal The Star de hoje. A bola da Copa, como a alegada adúltera Nompumelelo Ntuli Zuma, não seria confiável.
Chutada (a bola, não a senhora Zuma), não faria o esperado, ou daria voltas e quebradas enlouquecedoras. Partindo do princípio de que em véspera sem assunto de Copa vale qualquer delírio, imaginei uma entrevista com a bola. Para lhe dar a oportunidade de se defender.
– Dizem que a senhora...
– Você, por favor. Sou uma bola como qualquer outra.
– Mas dizem que você não é como as outras. Que se comporta mal. Que é difícil de controlar, de chutar, de pegar...
– Eu só sou um pouco mais espevitada. E daí? Quer saber de uma coisa? Acho que esse pessoal está procurando desculpa para a própria ruindade. Quem fracassar vai dizer que fui eu.
– E as críticas, comparando você com a mulher do Zuma?
– Fazer o quê? Nem todo mundo gosta de sexo.
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