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terça-feira, 15 de junho de 2010
15 de junho de 2010 | N° 16367
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Uma outra Porto Alegre
Perguntem a pessoas sensíveis qual foi a época em que elas foram mais felizes e nove em cada 10 escolherão algum lugar do passado. Só uma – e olhem lá – elegerá o momento presente.
Tomem como exemplo Porto Alegre. Leio consternado sobre a legião enorme de crimes que se cometem a cada dia na Capital e na Região Metropolitana. Era bem diverso quando me mudei, guri, para cá na década de 1950. Esta não era então uma cidade em guerra contra si mesma e as páginas do noticiário policial dos jornais davam conta de raros delitos mais graves – e certamente de nenhum movido a crack.
Meu pai gostava de nos levar, minha mãe, meus irmãos e eu, a passear de noite na Rua da Praia. Era todo um espetáculo de luzes, de paz e de beleza. A tranquilidade era absoluta – não se via sequer um batedor de carteiras. As lojas exibiam o esplendor de suas vitrines. Casais transitavam, ou nos passeios, ou nas pedras do calçamento azul e rosa, desde o Hotel Majestic até o início da pequena ladeira que conduzia à Praça Dom Feliciano.
As pessoas costumavam ir ao cinema, não a esses de shopping e estacionamento pago, mas aos que ficavam em plena calçada. Na Praça da Alfândega, então livre de drogados, de marginais e de damas de vida airada, havia o Guarani, o Imperial, o Rio, o Rex, o Central e, pelas redondezas, ficavam outros como o Ópera, o Victoria ou o Rivoli.
O Theatro São Pedro dava funções regulares para um público fiel, livre de flanelinhas, e ninguém se atreveria a pichar os monumentos da Praça da Matriz, por sinal um dos lugares preferidos dos namorados nas noites enluaradas.
Aos sábados, os adolescentes compareciam a reuniões dançantes, que por vezes se estendiam até a primeira hora da madrugada, sem qualquer temor para os papais: se os bondes da Carris já houvessem se recolhido a merecido descanso, as ruas eram livres de assaltantes ou de sequestradores-relâmpago. E tinha também os bailes, tipo os da Reitoria, que amanheciam envoltos em ternura.
Falei antes dos bondes da Carris. Como sei algo das coisas da Europa, conheço lugares, como a futurística Frankfurt, onde eles são símbolos de modernidade.
Pois é. Já tivemos bondes, portas giratórias, confeitarias e outros indicativos de civilização. Falta-nos talvez lançar um olhar ao passado, só para concluir que éramos felizes e não sabíamos.
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